domingo, 25 de janeiro de 2009

DE BAR EM BAR - Allegro Bistrô (Modern Sound)


Tenho uma alegria especial em vir a este bar que fica dentro da loja que está na minha história. Já gastei, feliz, rios de cartão de crédito por aqui – e, por conta disso, levei para casa alguns dos objetos que mais amo na vida. São os discos, os LPs, os CDs – a música, enfim. É verdade que a crise do mercado fonográfico, sem precedentes, transformou o CD no próximo dinossauro – caríssimos, eu mesmo deixei de comprar tanto. (Diante da crise, passaram até a ter outras funções: outro dia, vi um mendigo, sentado num banco da Avenida Atlântica, pentear-se usando um CD como espelho).

Mas bem antes da queda brusca nas vendagens do CD, os donos da loja (os Pedros, pai e filho) sabiamente passaram a investir no bar, que já existe há oito anos. Portanto, o bar, que oferece também boa música, cresceu, ganhou espaço e tornou-se um lugar de referência de shows e até de comes e bebes. Estou falando do Allegro Bistrô, o bar da Modern Sound, na Barata Ribeiro, pertinho da Santa Clara, todos sabem onde fica.

Cheguei cedo para ver o show do Hyldon, um dos fundadores do soul brasileiro, junto com o síndico Tim Maia e Cassiano. Para quem não lembra, é o autor do clássico “Na rua, na chuva, na fazenda”. Hyldon está lançando disco de inéditas, depois de mais de 15 anos, e tenho o orgulho de ter uma parceria com ele no CD. No Allegro Bistrô, são lançados mais de 100 discos por ano. E são 600 shows anuais. Por aqui já passaram nomes como Francis Hime, Marisa Monte, Yamandu Costa, Erasmo Carlos, João Carlos Assis Brasil, Paulo Moura...

Além disso, o Allegro é elegante. Duas ou três fileiras de mesas de tampo de mármore e cadeiras de madeira, como devem ser, e um palco soberano. Ao fundo, na direção do banheiro, um balcão com bancos altos em volta. Obviamente que o lugar respira música. Em suas paredes, pôsteres de artistas. Peço um balde com três cervejas diferentes: Cerpa, Bohemia e Heineken.

O movimento do bar vai crescendo à medida que se aproxima a hora do show. Garçons passam apressados para lá e para cá. Peço logo uma porção de queijo prato e uma Caponata. Há as mesas de freqüentadores habituais, como a das saltitantes senhoras tomando chá e comendo sanduíches. Ou a do senhor à minha frente, bebendo um Chivas Regal. Chega em sua mesa um casal de amigos e, de imediato, o senhor solicita ao garçom, a cara do jogador Obina, um balde de Bohemia e uma tábua de frios.

- É fácil. Eu abro o Clarín, vejo o que está se passando, os shows... e pronto!

Falam de Puerto Madero, Hotel Faena, crise, alta do dólar. São bons vivants que adiaram uma viagem a Londres e, até segunda ordem, se divertirão em Buenos Aires. O homem é alto, atlético, tem uma barbicha branca. A mulher é loura e a idade ainda não afetou a sua beleza. Sobre eles mais não falo porque vai começar o show.

E também porque hoje o meu personagem não é ninguém de carne e osso – mas o próprio palco, soberano, razão maior da existência deste bar. Ah, sim, o show é de graça. Saúde e até a próxima.

Allegro Bistrô – Rua Barata Ribeiro 502, Copacabana (2548-5005)