sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Onde estão os cariocas?

DE BAR EM BAR - Devassa


- Levando em conta que você é o azarado da turma, boa coisa não é! – disse o barbudo em tom de gozação.

- Mas eu não fiz nada!... – berrou o amigo.

Logo pude perceber, na primeira frase, que o tal amigo estava numa água daquelas. Era uma mesa com três homens e uma mulher. Embora fosse ainda cedo, já estavam no final da jornada etílica. Pedem a conta. São jovens paulistas, talvez ricos, de férias. Vem o garçom com a nota e todos sofrem:

- Duzentos e tantos contos!

Passa na rua um ambulante que vende camisas de futebol. O amigo azarado fala para o vendedor em linguagem enrolada: “Adrfiano... Adrwfjiano...”. O homem não entende (ainda há um toldo de plástico entre os dois), então ele corre para dar a volta e entra no bar, na dúvida, já com a camisa do Flamengo de prontidão. O engraçadinho se adianta: “Não quero comprar nada não, meu. Sou Curíntia...”. E cai na gargalhada com os amigos. Lamentável. Regra de ouro do bar: se quiser beber, beba; mas não encha o saco de ninguém. Mudo-me de lugar, já que eles decidiram recomeçar, e a coluna, enfim, ganha outros ares.

Fui para a varanda que dá para a Prudente de Morais. Estamos na esquina desta com a Farme de Amoedo, no Bar Devassa. Sexta-feira à tarde, chove e faz frio. Um dia ideal para beber um chope mais encorpado. Peço ao garçom uma Devassa Índia (índia pale ale, coloração escura, de teor alcoólico 6%). Excelente. Dá logo uma onda. Para acompanhar, peço uma porção de croquetes de carne apimentados. Na mesa à minha frente, agora está um grupo de cinco meninas e um rapaz gordinho de barbicha e piercing. Uma delas é alemã e se esforça para falar português.

A esta altura, umas seis da tarde, há ocupação apenas no entorno do bar, com os fregueses, como eu, encostados na varanda de vista preciosa. A parte interna está vazia – o que torna o salão, imponente e iluminado, muito bonito de se ver (passo os olhos por suas paredes de cor mostarda, mesas de madeira, piso em branco e preto formando mosaicos, um grande pôster de fábrica de cerveja e, em destaque, um balcão espelhado atrás). É, sem dúvida, um lugar que tem seus trunfos.

Mas o trunfo maior aqui é realmente o chope, criação da própria casa. A bebida vem nas espécimes loura, ruiva, negra, índia e mulata (que mistura loura, ruiva e negra). Há também as cervejas, com uma linha de produção que abrange diversos tipos. Hoje decido ficar apenas no chope. Vario entre as índias e uma negra (nada mal, hein.) Peço o cardápio para escolher outro petisco. Há opções como anéis de lula, queijo coalho, kassler, escondidinhos, camarões. Peço o creme de abóbora e gorgonzola. Vem absolutamente sensacional.

Na mesa das cinco meninas e do barbicha, o papo já começa a morrer. A mais bonita dá um bocejo. Daqui a pouco vão embora a fim de dar uma descansada para a night. Excetuando-se a gringa, são mineiros também de férias no Rio de Janeiro. Aliás, na mesa atrás de mim e em volta, noto a presença de mais turistas. Está certo que faz um dia pouco carioca, mas cadê os nativos? Saúde e até a próxima.

Devassa Bar – Rua Prudente de Moraes, 416, Ipanema (2522-0627)