sexta-feira, 12 de junho de 2009

O legionário e a Cristalina

DE BAR EM BAR - Academia da Cachaça


Fui outro dia com o Dado Villa-Lobos ao bar: pedi-lhe que indicasse um. Ele, sem pestanejar, escolheu a Academia da Cachaça, ali no Leblon, naquela rua que enfileira botecos em sequência. E a Academia é, com efeito, o decano da turma: existe desde 1985. Enquanto dou uma folheada no cardápio e penso num chope, Dado cumprimenta os garçons, puxa seu cartão de fidelidade do bar e faz logo o pedido: uma porção de linguiça, caldinho de feijão e uma cachacinha Cristalina. Já que ele foi infinitamente mais rápido no gatilho, peço igual.

Sempre achei ser o Dado brasiliense (pois a Legião Urbana veio da capital federal). Com tal pedido, imaginei-o um autêntico mineirinho. Mas enganei-me redondamente. O homem é muito chique, caro leitor. Nasceu em Bruxelas (seu pai é diplomata e por isso já viajou bastante pelo mundo). Mas, na verdade, ele é carioca há 24 anos. Conversamos sobre diversas coisas. Dado Villa-Lobos é inteligente e espirituoso, fomos de Dostoiévski a nosso amigo em comum Fausto Fawcett (que parou de beber), passando pelo futebol. Do fenomenal autor russo, ele citou O idiota – que é como muitas vezes me sinto ao lidar com meu filho adolescente e é o livro que estou lendo no momento.

Pedimos mais uma cachacinha (agora a Asa Branca), acompanhada de um chope. O cardápio da Academia, claro, é pródigo nas marcas de aguardente. Aqui tem: Lua Cheia, Magnífica, Marimbondo, Salinas, Souza Leão, Tambaba, Triumpho, Germana. E também: Coqueiro Azulada, Milagre de Minas, Musa, Recordações (como assim?). E muitas outras. O cardápio, porém, não é só interessante no quesito água que passarinho não bebe (e suas derivações, como caipirinhas, capeta e que tais). Além dos tradicionais petiscos e algumas criações curiosas (como escondidinho light), há pratos famosos como o vatapá carioquinha, o filé da casa e a feijoada.

Dado não pode ficar mais muito tempo, pois precisa voltar para seu estúdio, que tem funcionado a pleno vapor. Hoje recebe músicos até da Europa e do Japão, que querem gravar em alto nível, mas sem gastar em euros ou ienes. Pergunto-lhe quando vai gravar um segundo disco solo e aproveito para elogiá-lo pelo primeiro, que além de boas composições tem uma ótima versão de Luz e mistério, do Beto Guedes. Dado me diz que no primeiro botou todas as suas referências e parceiros (Fausto, Paralamas, Humberto Effe, Paula Toller), como que a pautar a sua trajetória. Para um segundo disco, já tem uma ideia, mas não quer fazer a qualquer custo – ele sabe que o mercado atualmente está muito complicado e em transição para um outro modelo.

Antes de se despedir, Dado Villa-Lobos acena com uma possível parceria musical, o que para mim será uma honra. Ele sai e fico a pensar que o eterno guitarrista da Legião Urbana é um cara de bem com a vida. Ouso dizer que uma das suas raras preocupações é o seu Fluminense. Mas, como meu time também não vai lá muito bem das pernas, essa já outra história. Com a conta, ainda peço uma empadinha de costela. Sensacional. Saúde e até a próxima.

Academia da Cachaça – Rua Conde Bernardotte, 26, Leblon (2529-2680)