sexta-feira, 13 de março de 2009

Restaurante ou boteco? Ambos

DE BAR EM BAR - La Fiorentina


Certa vez fui recebido, no início de uma noite abrasadora de verão, por um simpático e eterno Ary Barroso – prenunciando o elenco estelar do estabelecimento. Vêem-se, sem muito esforço, as assinaturas, na toalha de papel da mesa, de nomes como Marília Pêra, Caetano Veloso, Braguinha, Ziraldo. Pode-se dizer que a casa sempre foi assim com as estrelas. Mas seria o La Fiorentina um restaurante ou um bar?

Acho que a Fiorentina é uma coisa e outra. O leitor pode, por exemplo, tomar vinho e jantar a dois, romanticamente, um risoto de funghi no salão, olhando para os quadros e os garranchos nas paredes de artistas famosos, como também pode pedir chope e comer camarão ao alho e óleo, na calçada, olhando para o mar de Copacabana. Fica ao seu critério. E os dois programas valem.

Sentei-me na parte externa, sob o toldo branco padronizado. As mesas são de plástico com pé de metal e cadeiras com assento imitando palhinha. Na falta ainda de público, dois garçons brincam de se zoar mutuamente. À distância, o maitre ri e apóia-se, destemido, na cabeça de um leão (assim como na entrada do bar há a estátua do compositor de “Aquarela do Brasil”, na entrada para o salão, há dois leões, em posição de guarda, um em cada lado da porta).

- Por que não reserva a escuna? Tô falando sério. Vai ser legal.

- Claro que não.. Vai ser péssimo!

O casal afinado tinha seus 50 anos. Ela comia salada verde com frutos do mar, ele bife com batata frita. Ela era animada, ele soturno. Estavam esportivos, se é que boné, camisa social, bermuda e tênis podem ser considerados assim. A senhora vestia camiseta e malha de ginástica. Os dois bebendo chope.

- Você é ótima na teoria! Mas prova que eu estou errado... aquilo vai virar um chiqueiro.

Ela se limita a tentar tirar com a unha, depois com um palito, o pedaço de alface preso entre os dentes. Ele não se incomoda. Conversam sobre trabalho e, à medida que os chopes vão se sucedendo, o tom aumenta. Será que recebem turistas? O que sei é que, subitamente, o ritmo de chegada de pessoas ao bar virou uma verdadeira loucura. E logo deixei de me interessar por aquele casal.

Duas mesas prenderam minha atenção, enquanto pedia ao garçom uma porção de camarão no vinho branco – uma delícia. A primeira mesa era comandada por uma autêntica vovó garota. Vestido preto matador, sandália de salto, a pele bronzeada. Ao lado, as netas e a namorada do filho. (Ah, as múltiplas configurações da família moderna...) Pelo vaivém, pude perceber que moram perto e são chapas dos garçons. Daria uma outra coluna.

A segunda mesa que observo reúne três mulheres. Trabalham juntas, são maduras, independentes e solteironas. Nem bonitas, nem feias, desinteressantes. Por isso mesmo, botei fé no que tinham a dizer.

- Por que você tem pena dela?

- Ela é muito solitária.

Bem, com essa, resolvi fechar a tampa. Mas, antes, pedi uma porção de mariscos, também uma maravilha – inclusive, vieram a caráter, com as respectivas cascas. Rosados, pareciam até frutos do mar de férias no Leme. Saúde e até a próxima.

La Fiorentina – Av. Atlântica, 458 A, Leme (2543-8395)