segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tristeza botafoguense

(A SOMBRA DO FAQUIR 20)




         Ando meio sumido deste espaço, mas por um motivo até certo ponto nobre: o de remar contra a corrente, num momento de crise do mercado fonográfico em que não se vendem mais discos. Estou nesse momento em estúdio gravando um CD meu, autoral. Depois de quase 15 anos como letrista, resolvi me arriscar a (tentar) cantar e cometer minhas próprias interpretações de minhas músicas, sempre compostas com um ou mais parceiros que são músicos e entendem do riscado. A produção é do Rodrigo Santos, baixista do Barão, meu parceiro e grande amigo.

         Por conta desse trabalho, não tenho conseguido escrever nem ler nada. Costumo ler alguns livros ao mesmo tempo, mas nem jornal está rolando (fico sabendo das coisas vez ou outra pela tevê), exceção feita à parte dos esportes. Mais especificamente, à cobertura do meu Botafogo, que vasculho, em qualquer brecha, até na internet. Não que fique internado 24h dentro do estúdio, mas para botar o projeto em pé é preciso estar envolvido completamente, ainda mais que o meu produtor anda às voltas com mil e uma atividades. Felizmente ele sabe o que faz e está sendo uma grande experiência entender como se constroem as canções, instrumento a instrumento, com o auxílio luxuoso do co-produtor Cezar Delano e a estrutura de minha editora musical, gerenciada pelo vascaíno Décio Cruz.

         O motivo de eu ter aberto uma exceção e voltado aqui antes de finalizar as gravações foi a profunda tristeza que se abateu sobre mim com o descaminho de meu time de coração. A menos que exista Papai Noel, o ano acabou ontem para o Botafogo. Depois de perder do Internacional em casa, somando a quarta derrota consecutiva, o Botafogo deixou escapar uma situação em que tinha boas chances de título e 86% de probabilidade de estar na Libertadores em 2012. O clube conseguiu montar um bom time, bem melhor do que em anos anteriores, tem uma estrutura razoável para os times cariocas, paga salário em dia, e chegou a fazer algumas apresentações bastante convincentes, como ao ganhar de 4 a 0 do Vasco no primeiro turno do Brasileiro e de 2 a 0 do Corinthians no segundo turno, não por acaso os dois times favoritos para ganhar a competição.

         Mas há uma frase que em momentos como esse ronda a cabeça de todos os alvinegros – e também daqueles que aproveitam a ocasião para dar uma tripudiada na gente. “Há coisas que só acontecem ao Botafogo”. Como é que estando em terceiro lugar, jogando bem, com um elenco mesclado de jogadores experientes e de nível de Seleção, como Jéferson, Renato e o ídolo Loco Abreu, e algumas revelações como Elkeson e Cortês, o time se descontrolou e desceu ladeira abaixo? Como é que o clube foi demitir o técnico Caio Júnior faltando três jogos para o fim do certame? Por que a torcida nutria profunda antipatia pelo técnico que pôs o Botafogo novamente para jogar para a frente, com um estilo de jogo que certamente era mais agradável de se ver do que a eterna retranca do mestre Papai Joel Santana?

         Mais do que procurar respostas ou possíveis culpados, acho que o mais importante agora é continuar o trabalho sério de aparelhar o clube, valorizar as categorias de base, manter a parte do time que deu certo, fazer contratações pontuais (inclusive de um novo técnico para funcionar a longo prazo), e acima de tudo entender que o Botafogo é maior do que churumelas, chororôs e superstições. Para voltar um dia a ser o Glorioso que sempre foi.