sexta-feira, 10 de julho de 2009

Feijão ou galinha à cabidela?

DE BAR EM BAR - Bar do Mineiro


Numa tarde dessas, de frio e azul intensos, peguei o bondinho e fui ao Bar do Mineiro, em Santa Teresa. Ao chegar lá, o espanto: estava plenamente cheio às 16:30 de uma quarta-feira. Mesas com a rapaziada local, gringos ali e acolá, uma equipe de produção de uma filmagem, várias meninas bonitas. O bar, cuja frequência no fim de semana é enorme (e a espera, inevitável), tem a cara de um dos bairros mais simples e charmosos do Rio de Janeiro.

As paredes são azulejadas em branco com diversas informações visuais. Quer ver? Cartazes de cursos e shows, matérias de jornal, pôsteres de filmes, fotos de estrelas da MPB, bondinhos, grandes panelas, quadros de pintura naif e, em destaque absoluto, no final do salão, uma placa vermelha do tipo “Pare”, mas escrito no lugar “PIRE” . Como nunca se sabe, para garantir, sob o balcão há imagens de variados santos. Numa prateleira, títeres de Gilberto Gil, Bob Marley, Cartola, Hendrix, Elvis, Carmem Miranda, Piaf. E nas prateleiras ao redor, naturalmente, as cachaças, um elogiável estoque delas. O Mineiro vai para o trono ou não vai?

Sim, e ainda tem a comida. O carro-chefe é a feijoada – prato dividido pela morena de olhos azuis com mais duas amigas igualmente belas. O cardápio apresenta também feijão tropeiro, tutu à mineira, rabada, frango com quiabo e polenta, leitão à pururuca, fígado acebolado. E para estômagos mais sensíveis, o prato “Mineiro light”. Mas hoje já almocei. Peço apenas uma cerveja Original e uma porção de pastéis de galinha à cabidela. Vieram sensacionais, sequinhos, deliciosos. É a mais nova invenção do bar e por mim terá vida duradoura.

Subitamente, toca o celular. Fico sabendo que meus amigos, o roteirista Péricles Barros e o artista plástico Raul Mourão, infelizmente não poderão vir mais. Péricles, o Pequinho, me liga para dizer que imprevistos rolaram. Ok. Isso acontece. (O Raul Mourão, de alguma forma, é que está presente: seu nome está escrito em azul numa das paredes.) Por sorte, o bar é divertido. E a observação ao que se passa no ambiente torna-se mais aguda. Ou, talvez, mais voyeurística. As meninas da feijoada já terminaram, agora contam casos e tomam uma cerveja. Há uma mesa de argentinos comendo arroz carreteiro e, estranhamente, falando baixo – será efeito da seleção do Maradona?

Eis que chega o meu consultor para bares no Centro e arredores, Marcos André, o vulgo Dudu, acompanhado da mulher Moema e do pequeno Vítor. Aos seis anos, o moleque parece que tem oito ou nove. Com a agitação característica da idade, ele dispara pelo bar. Moema tenta lhe oferecer um pastel, mas ele quer chiclete. Mesmo assim, pedimos uma porção dos famosos pastéis de feijão. Eu e Dudu tomamos uma cachacinha Previdência. Meu amigo, com um orgulho transatlântico, diz que o filho é fã de Tim Maia. “Como é que é, Vítor, a música de que você gosta?... Só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher...” Ao que o pequeno completa, com um sorriso esperto: “... O resto vale!” Esse garoto vai longe. Saúde e até a próxima.


Bar do Mineiro – Rua Pascoal Carlos Magno, 99, SantaTeresa (2221-9227)