sábado, 30 de janeiro de 2010

simples(mente)

O ser humano é tão ridículo
E bonito
Sendo só o que é
Sem amarras
Nem holofote algum.

A barba perto do olho.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Argentino de fé, irmão camarada

DE BAR EM BAR - Popeye


Como já havia tempo que não aparecia por aqui um convidado, volto a fazer uma coluna com um amigo de fé, irmão camarada. Dessa vez fui ao bar com o meu mui amigo Federico Bardini, de férias no Rio. Pegamos o metrô ao anoitecer na Siqueira Campos e saltamos com o céu desabando na recém-inaugurada estação de Ipanema. Iríamos a um quiosque na praia e tivemos de mudar os planos. Fomos então ao Popeye, pé-sujo clássico na Visconde Pirajá. Posso garantir, amigo leitor, que não foi em vão.

A casa já estava cheia. Na frente, encostada no balcão, a velha guarda, a galera que bate o ponto; nos fundos, a turma do trabalho, sentada em banquinhos; e no meio, em pé, dois gringos, eu e Federico. Aliás, três. Federico é argentino. Ou melhor: dois gringos e meio. Pois o editor de cinema, TV e vídeo Federico é metade carioca. Morou aqui muitos anos (onde foi coordenador do curso de cinema da faculdade Estácio de Sá), é casado com a bela carioca Aline, e tem um filho igualmente belo e brasileirinho, Geovani, com dois anos. Tudo isso, claro, não impede que tenhamos a rivalidade à flor da pele e altos embates sobre futebol.

Pedimos um chope para começar. Encostados na parede azulejada em azul-escuro do corredor, nem sabemos mais do tempo lá fora. O que sei é que na parte de cima da parede, pintada de amarelo, vêem-se imagens dos personagens do universo de Popeye: o próprio, Olívia Palito, Brutus e o bebê irmão de Olívia. Ao pedirmos o segundo chope, bate a fome. Eis os petiscos oferecidos num cartaz: churrasquinho, fritas, linguiça, moela, feijão amigo e sardinha. Mas reparo num freguês comendo um bolinho de bacalhau com o maior gosto. Peço um e Federico escolhe uma sardinha frita. Bem feitos e sequinhos, os dois petiscos estavam ótimos. Assim como o chope tirado pelo simpático Francisco. Mais dois, Chico.

Na enorme TV atrás do balcão o assunto também é futebol. Primeiro, uma matéria com Loco Abreu, uruguaio contratado pelo meu Botafogo, e que já jogou pelo River Plate, de Federico. Ele faz elogios ao jogador (“tem presença de área, é artilheiro”), mas acha que deve ficar pouco tempo (“No River ficou só seis meses e depois foi atrás de mais grana no México”). Bem, vamos ver. Só espero que o alvinegro, de tantas glórias, não dê continuidade ao processo de se apequenar, contentando-se mais uma vez em apenas não ser rebaixado.

Em seguida, como se estivesse combinado, surge na TV o célebre gol de mão de Maradona contra a Inglaterra, em 1986. Federico diz que o Brasil está muito forte hoje. Eu retruco que a Argentina veio mal nas eliminatórias, mas na Copa é um perigo e com Maradona, agora técnico, tudo pode acontecer. Falamos depois do tempo em que fomos vizinhos e também da viagem que fizemos a Cuba com outro amigo, o Pequinho. Bons tempos. Para comemorar, enfileiramos pastéis, porções de fritas e de provolone e algumas saideiras. Grande pé-sujo, o Popeye. Ainda fumamos pela noite um autêntico charuto Cohiba e demos um mergulho no mar. Tudo certo. E que na Copa de 2010 vença o melhor – o Brasil, claro. Saúde e até a próxima.

Popeye – Rua Visconde Pirajá, 181, Ipanema

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

luxúria o que é?















(Chelsea Hotel, óleo de Antonio Berni, pintor argentino - 1905-1981)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Garçom, uma 'champanhota'

DE BAR EM BAR - Boteco da Garrafa


Nesta primeira coluna do ano resolvi fazer completamente diferente. (Calma, amigo leitor: não deixei de ir ao botequim, nem, muito menos, saí nu por aí.) Ao invés dos sempiternos chope e cerveja, que fielmente me acompanham, fui dessa vez de champanhota – como diria o velho cronista social. Para brindar ao novo e, quem sabe, a dias melhores.

Para isso, fui com S. ao Boteco da Garrafa, em Copa, naquela confluência de bares nas esquinas de Domingos Ferreira com Bolívar e desta com Aires Saldanha. Não seria o lugar ideal para beber um espumante, pois a garrafa em questão, em que o bar se propõe a ser especialista, é outra, claro. Mas tudo bem. Faz calor nessa tarde ensolarada de domingo sem futebol. Vamos nessa.

O bar exibe em suas paredes fotos em montagem de artistas de cinema com marcas de cerveja. Tem também imagens do Rio antigo. Tudo em preto e branco. Em volta de um imponente balcão, no canto esquerdo de quem entra, há cadeiras altas, para solitários e bons observadores. No pequeno salão, eu e S. pegamos uma mesa na janela, de frente para a Bolívar, de um casal que acaba de sair.

Peço de cara uma cerveja Serra Malte e uma porção de polenta. A ótima cerveja Serra Malte poderia estar um pouco mais gelada. Outras marcas no cardápio: Bohemia, Quilmes, Stella Artois, Beck´s, Original, Leffe, Norteña, Franziskaner. Alguns outros acepipes: moela marinada, espetinhos (mix de frutos do mar, frango com gengibre), costelinha de porco com molho barbecue, pastéis (salmão defumado com brócolis, peito de peru com ricota, carne seca com catupiry). A polenta veio ok.

Mas eis que é chegada a hora de entrar no capítulo espumante. A casa oferece o drinque Kir Royal, com espumante e licor de cassis. A R$ 18 reais cada taça. S. resolve experimentar, mas veio quente. Pergunto ao garçom quanto seria logo a garrafa do espumante (que não consta do cardápio). Apesar do preço alto, ainda valeu a pena o negócio. Em alguns minutos, estava encostado na minha mesa um carrinho com um balde com muito gelo e uma garrafa de Chandon Reserve Brut (perdão, Lalas.)

Quando pensei que tudo seria romance, e eu, um rei de Copacabana, chega ao bar um trio espantosamente nuvem-negra para se aboletar próximo ao meu ex-futuro reino. Uma amiga e um casal de jovens sem noção. Arrogantes, falam alto, se acham, riem como hienas. “Faz um are-rê”, grita a esposa para o marido ao seu lado. Este levanta os dois braços e os agita para chamar o garçom. “Este copo está sujo de batom e, como você pode ver, aqui ninguém usa batom.” A amiga, enquanto isso, combina pelo celular um karaokê mais tarde com a galera. Haja animação.

Antes que ficasse totalmente descrente da raça humana, achei melhor pedir uma porção de lula grelhada com molho tártaro. Veio divina (atente para o fato de que é grelhada e não frita). O molho tártaro merece menção especial: veio delicado, saboroso, e não aquela bomba atômica de sempre. Voltou a esperança. Um brinde, um gole, um beijo. Deu até para sentir um breve clarão de felicidade. Saúde e até a próxima.

Boteco da Garrafa – Rua Bolívar, 27, Copacabana (2255-1680)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Arte o que é?

“Se querem realmente magoar seus pais e não têm coragem de se tornar gays, o mínimo que podem fazer é entrar para as artes. Não estou brincando. As artes não são uma maneira de ganhar a vida. São uma maneira muito humana de tornar a vida mais suportável. Praticar uma arte, não importa até que ponto bem ou mal, é uma maneira de fazer sua alma crescer, pelo amor de Deus. Cantem no chuveiro. Dancem ao som do rádio. Contem histórias. Escrevam um poema a um amigo, até mesmo um poema horrível. Façam isso da melhor maneira que puderem. Receberão uma enorme recompensa. Terão criado algo.”

(Kurt Vonnegut, Um homem sem pátria)