quinta-feira, 1 de julho de 2010

Viva a besteira

DE BAR EM BAR - Astor

Nesta semana fui a um botequim novidade. Além de ser um dos poucos que temos à beira-mar (sem contar os muitos restaurantes de Copacabana), é também um boteco de paulista, sem nenhum preconceito à cidade da garoa e do trabalho eficiente. Fui ao Astor, ali onde era o Barril 1.800, no início de Ipanema, com S. e os queridos amigos Mel e Maurício Barros. Uma saída com este casal é sinônimo de comer e beber bem e jogar ótima conversa fora – além de quase sempre fecharmos o bar.

Chegamos por volta de 19h de sábado. A varanda, que costuma ser a preferência, estava cheia. No amplo e elegante salão interno havia algumas poucas possibilidades de mesa, mas também já estava bem ocupado. O pouso ficou em frente ao extenso balcão, no extremo das mesas, e o mais perto das poltronas, no ambiente anexo para espera, e de parte da cozinha aberta ao público.

No início é preciso quase implorar aos garçons que notem nossa existência (talvez por não acharem que iríamos consumir; ou seja, cara de pobre). Mesmo depois do contato com o maître, ainda mantiveram por um tempo a pose blasé. Mas depois, capitaneados pelo garçom Ronaldo, justiça seja feita, tudo melhorou. Afinal, São Paulo não pode parar... e o bar também não.

Abrimos os trabalhos com ostras, os afrancesados mexilhões com batatas fritas (moules et frites) e chope cremoso da Brahma. As ostras vieram excelentes, frescas e saborosas. O chope muito bom, com a pressão na medida. Os mexilhões em molho de cerveja, numa porção não muito generosa, estavam corretos, mas não chegaram a empolgar. Pedimos então bolinhos Pirajá, que vêm a ser bolinhos com recheio de abóbora e carne-seca. Vieram ok para menos.

Outras opções do cardápio: pastéis, empadas, caldinho de feijão, omeletes, mexidinhos de rabada, polenta e agrião, de frutos do mar e de linguiça com gorgonzola. Entre os pratos, pode-se escolher entre filé com queijo Palmira, camarão com chuchu, picadinho Astor, linguado à Meuniére e frango Balthazar.

Observando ao redor, percebo um clima de azaração light. É um lugar para ver e ser visto. Logo identifico uma mesa com três amigas à La Sex in the city ali, outra mesa com dois senhores com ares de burgueses divorciados perto, passam para lá e para cá algumas modeletes anônimas, um ator de novela das oito, outro de Zorra Total, e uma turma bem mais jovem, que surge para se aglomerar na área das poltronas. A casa aumenta o som ambiente. U-hu!...

Depois dos primeiros chopes, passamos para o vinho (menos a Mel, que continuou com sua caipirinha de lichia com vodca Absolut). Começamos com um Alamos (Malbec), mudamos para um Tília (Shiraz/ Malbec) e repetimos a dose deste, ambos argentinos. Para continuar nos belisquetes, pedimos almôndegas picantes, muito boas, e em seguida besteiras à milanesa, nada mais nada menos do que pedaços de bife à milanesa com queijo emental presos no palito.

O que poderia ser só um item coadjuvante no pé-limpo bom, bonito e caro acabou sendo o destaque gastronômico da noite. Inclusive com grande aceitação nas outras mesas (o que prova que simplicidade tem o seu valor também nos lugares mais requintados). No boteco paulista com vista para o mar, a besteira foi o astro. Ah, sim: fechamos o bar mais uma vez. Saúde e até a próxima.

Astor – Rua Vieira Souto, 110, Ipanema (2523-0085)

A origem da comédia

“Se examinarmos atenta e longamente uma história engraçada, ela se torna cada vez mais triste.”
(Gogol)