sexta-feira, 20 de março de 2009

A alma ainda é a do Antonio's

DE BAR EM BAR - Rex


É um bom nome: Rex. E dá vontade de continuar dizendo: “Rex... Rex!... Aqui, Rex!”. Bem, fui ao Bar Rex, cujo símbolo é o célebre cachorro criado pelo Angelo de Aquino, e que fica quase na esquina das ruas Vinícius de Moraes (ex-Montenegro) e Barão da Torre, em frente à banca de jornal. Por lá, passam algumas das mais belas cariocas, deusas em trânsito, relaxadamente, indo para a praia, voltando, fazendo qualquer coisa. E o ipanemense em geral. Por isso, o ponto do bar é magnífico.

Mas, infelizmente, não posso dizer que tudo são flores. O bar antes era o “Antônio´s”, Antônio de um dos donos do Belmonte. Parece-me que o gerente ou sócio o comprou e virou Rex. Só que, pelo visto, o bar continuou, mesmo com nome diverso, um filhote do Belmonte. Na decoração, nos espelhos, nos ventiladores. Para o bem e para o mal, lembra muito a rede de bares que começou na praia do Flamengo.

Sento-me perto da rua e reparo nas poucas mesas ocupadas. Chamam-me a atenção, na minha diagonal, dois amigos. Eles conversam, fumam e tomam chope. Um deles é o típico malandro de praia, todo tatuado, cara de brabo, um James Dean da Montenegro entrado nos anos, mas bem. Continua queimadão de sol. O outro, mais acabado, um pouco gordinho, quase parece comigo. Na mesa colada à minha há um senhor moreno, de óculos, bebendo e lendo uma apostila.

Peço uma caldereta. O chope vem no ponto. Mas James e o amigo falam baixo e não é possível compreender nada. O que deu para ver é que surgiam na mesa deles, o tempo todo, figuras de passagem. Como a moça linda e a filha pequena, ou o negão simpatia pura, ou a mulher loura de meia idade com um cachorrinho na cesta da bicicleta. Nisso, eis que a mesa ao meu lado ganha outro colorido. Como um furacão, entra no bar uma velha senhora e senta-se na mesa do professor universitário (ou coisa parecida).

- Você viu o Zeca Pagodinho internado? Adoro esse rapaz. Da sua idade, hein!

- Tem que parar é de fumar. Acaba a resistência.

- Você deu aula hoje?

- Teve reunião. A trabalheira vai começar semana que vem.

De repente toca o celular. “Eu quero que você conheça meu filho. É... A gente passa de carro para te pegar... estamos aqui, no ex-Antônio´s, mas eu estou querendo ir a Copacabana comprar um presente... Olha, me ligou ontem um rapaz querendo alugar o apartamento, mas não deixou o número do telefone no recado. Um burro!”

A mãe só fala gritando. O filho é contido, calmo. Ela mora em cima do bar, brinca com o garçom, pega no braço. Ontem, bebeu muito. A música ambiente toca um rockabilly anos 50, a velha se balança, é animada à beça. Até que pedem a conta e saem.

Sinto fome ainda, mesmo depois da empada de palmito recheada com fartura. Peço um pastel de salmão, nessa onda de pastel de tudo. Não tem. Vou no popular pastel de camarão e um chope antes da conta. Há uma divergência quanto ao número de chopes tomados, e o garçom me pergunta se quero beber o cobrado a mais para acertar o valor. Sem chance. Ainda falta algo fundamental ao Rex – a sua alma. Saúde e até a próxima.

Rex – Rua Vinícius de Moraes, 146, Ipanema (2267-0710)