quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DE BAR EM BAR - Braseiro da Gávea

Quem nunca se apaixonou perdidamente, ao menos por cinco minutos, no Braseiro? Lá pelos anos 80, havia no lugar um pé-sujo que vendia cerveja Malt 90 (argh) e o pessoal bebia em pé na calçada. Mais para o final da década, o Baixo Gávea passou a ser o principal point da Zona Sul com a decadência do Baixo Leblon. Mas para ser Baixo não adianta só juntar gente, multidão, é preciso ter história. E sobre o BG daria para escrever um livro volumoso, dividido em vários tomos.

No início era o verbo. E o Hipódromo do outro lado da rua. Talvez no limiar dos 90, a coisa tenha se invertido e o Braseiro da Gávea é quem começou a dar as cartas. Tanto que conseguir mesa no fim-de-semana à tarde, especialmente no domingo, depois da praia, é tarefa dificílima. As filas são quilométricas. Mas para quem quer ver e ser visto não há lugar melhor. (Atualmente o movimento voltou a ser mais equilibrado entre os dois bares.)

Mas estou agora no Braseiro da Gávea, num dia de semana de verão. Começo com um chope e a tradicional lingüicinha na brasa. Eis que chega Seu Jorge. De cara dou-lhe os parabéns pelo sucesso todo e pergunto-lhe se ainda pensa em montar um bar com Ed Motta e Marcelo D2. Um bar com ovo colorido e tudo. Seu Jorge responde que agora não dá, “mas a idéia tá viva”. Então ele me pergunta como é que foi “O rei dos escombros”, uma peça minha (sim, me aventurei na co-autoria), em que ele cantou numa das músicas. Isso já tem um tempão. A peça não foi lá nada bem, mas a música ficou ótima.

Seu Jorge me dá um abraço e se adianta para um compromisso. Poucos minutos depois, chega o Otto, de bicicleta. Ele tomara um tombo, felizmente sem gravidade, e passou ali para dar uma relaxada. Depois que esvazia um copo, pergunto-lhe do disco novo. O título é: “Certa manhã eu acordei de sonhos intranqüilos”, inspirado no Kafka de “A metamorfose”. Não tem prazo ainda, é independente. Otto, além de imprevisível, é um poeta. Ou não é, quem escreve coisas como: “Esse amor me derreteu / Ajoelha-te esquece / A quem te machuca / Agradece, meu Deus / Dói demais / Tanta história de fogo / Que se passa / É melhor se queimar / Que viver na solidão” (“História de Fogo”, com música dele e Alessandra Negrini).

Falamos ainda sobre cães, e Otto também se foi. Aqui no Baixo Gávea é sempre assim. Os artistas vão se alternando numa velocidade espantosa. Um amigo jornalista chegou a passar, certa vez, 12 horas seguidas no Braseiro ouvindo histórias. E há, claro, os queridos personagens anônimos, como os da mesa ao meu lado. Primeiro só a filha, de seus 7 anos, e o pai, já de meia-idade. De repente, chega a namorada jovem do pai. Pouco tempo depois, aparece o pai da moça, da idade do namorado (a família moderna tem incontáveis combinações). Batem um papo animadíssimo. Mas, a esta altura, a fome já é grande. Só me resta pedir a picanha fatiada com arroz de brócolis, farofa de ovo e batatas portuguesas – um clássico do cardápio. E mais um chope para acompanhar e lavar a alma. Saúde e até a próxima.

Braseiro da Gávea – Praça Santos Dumont, 116, Gávea (2239-7494)

4 comentários:

  1. Aposto na volta do Hipódromo... Já ouvi burburinhos sobre essa retomada. Bem possível, a moda é cíclica. Parabéns pela coluna e pelo blog. A propósito, que site elegante... Abs!

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  2. Fiquei curioso de ir de novo lá no Hipódromo depois de sua coluna. Fim de tarde bom esse...meus parabéns.

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  3. Ontem estive no 'Hipódromo' e tomei 2 chopps...fui muito ao BG do início dos anos 80 até 94, qdo. fui para Brasília. O pé-sujo que ficava onde hoje é o 'Braseiro' chamava-se 'Lanchonete Dias Santos', lembro-me bem. Daqui do Rio, te deixo um abraço...

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