sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

DE BAR EM BAR - Casa Paladino


O espaço do bar, no antigo estabelecimento situado na esquina da rua Uruguaiana com a avenida Marechal Floriano, é dividido com uma mercearia de secos e molhados. E posso lhes garantir, só por esta singela descrição, que vale a visita. Trata-se da Casa Paladino, presente entre nós há 102 anos. (um detalhe: a entrada é exclusivamente pela tal mercearia.)

Faz um dia chuvoso no verão do Rio de Janeiro. Que novidade. Não tanto como no dia anterior, de alagamentos, trânsito infernal, transtornos absurdos. Chego no meio da tarde, há duas mesas ocupadas: na primeira, um rapaz come um sanduíche de salame; na outra, está um senhor gordinho, cabelo liso escuro, camisa social listada de vermelho e branco, calça social bege e pulseira de ouro no pulso. Ele conversa animadamente com o garçom, toma um chope e um Steinhager.

- Já reclamei que vocês estão perdendo cliente. Sabe o que é que ele me falou?

- Posso imaginar.

- “Estou preservando sua saúde.” Ora!...

Peço um chope e meia porção de azeitonas calabresas para abrir os trabalhos. O salão tem em torno de 25 mesas, todas com toalhas azuis, e cadeiras boas, experientes, como quase tudo aqui (olho para o teto e vejo-o descascando; enquanto não começar a esguichar água tudo bem). O garçom que conversa com o fumante agoniado é o Mário, o mais antigo dentre os garçons do local. Mas, mesmo assim, não vão pensar que o coroa é a uma múmia.

- Eu vou me aposentar esse ano. Agora aposenta até pela internet. Depois vou viajar.

- Você que é feliz, Mário. Eu com a minha aposentadoria dá para ir até o Méier. E de van, não é de ônibus com ar condicionado não.

E continua a reclamar que não pode fumar ali, porém mais por costume do que por alguma chance de vingar a demanda. Até que vem o dono, mais de 70 anos, português legítimo, sotaque original e tudo. Tapinha nas costas para cá e para lá, sorrisos, brincadeiras, e, sem nada mais a fazer, o dono se volta para seus afazeres no armazém.

O senhor gordinho da pulseira de ouro ainda pede mais um chope e um Steinhager. O rapaz que comia sanduíche já havia se retirado. O gordinho, depois de virar suas bebidas, confidenciou-me, tocado, com a intimidade de quem era o único além dele no bar: “Não sei se você sabe, mas eu mudei o escritório para a Rio Branco. Vai ficar mais longe daqui. Assim eu paro de beber”. Deu um risinho e saiu. E eu retribuí, fingindo que acreditei.

Fiquei sozinho no salão. Aliás sozinho, não: eu, Mario e outro garçom jovem, raridade no pedaço. Eles comentam que ontem, devido à chuva, só conseguiram pegar trem depois das dez. Eu, na minha ingenuidade, digo que deve ter ficado vazio o bar por causa do temporal.

- Pelo contrário, o bar lotou do pessoal esperando a água baixar.

Só me resta comer uma omelete. Fico na dúvida e peço ao Mario uma sugestão. Ele me recomenda a de sardinha portuguesa. Eu aceito. Ele pergunta: salsa e cebola? Certamente. Não ouso contrariá-lo. A omelete vem divina. Acompanho com um chope escuro, muito bem tirado. Saúde e até a próxima.

Casa Paladino – Rua Uruguaiana 226, Centro (2263-2094)

Um comentário:

  1. Estive por acaso no 'Paladino' na quinta passada e hoje leio sua Crônica. Vc não menciona o tal 'ovo triplo', mas é um sanduba famoso de lá, acho que comi uma vez lá pelos anos 80, memórias...
    Sem dúvida é um lugar autêntico, com bom chopp e petiscos, mas uma reforminha (cuidadosa, claro) faria bem ao Bar. Entrar pelos corredores da Mercearia eu dispenso...
    abs

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