sexta-feira, 22 de maio de 2009

Lotado para o turno da tarde

DE BAR EM BAR - B.G. Bar


Hoje, uma sexta-feira de maio, de azul cristalino, faz uma daquelas tardes em que se tem vontade de pedir ao compromisso licença para dar um pulinho na esquina e não mais voltar. Sendo assim, é o que faço e vou ao Baixo Gávea, mais precisamente ao B.G. Bar. Se você não está ligando o nome ao boteco, é aquele que fica quase ao lado da Casa da Gávea (para quem está de frente para esta, o Braseiro está colado à direita e o B.G., próximo à esquerda). Localizou-se?

Chego no bar com a aposta furada de que ainda teria mesa livre às 15:30. Ledo engano. São apenas quatro ou cinco mesas e estão todas ocupadas pelo pessoal que trabalha ali perto e ainda almoça, ou populares que estão de bobeira mesmo. O B.G. é essencialmente um bar popular, é o mais povão entre os bares do Baixo Gávea. Mas a classe média também bate ponto, mesmo de dia, e sempre tem uma mesa da rapaziada local, juventude dourada. E hoje não é diferente: é uma mesa em constante mutação pelo entra-e-sai à direita do balcão. Aliás, aqui muito se pratica o hábito carioca do “como é que tá, tudo bem? senta aí...” Nesse trecho da Gávea é fácil encontrar conhecidos.

O bar, embora não tenha nada de mais, é um pé-sujo ajeitado. Há porções de linguiça, batata frita, bolinho de bacalhau. Nas prateleiras do balcão, sanduíches naturais já embalados. Encosto-me no balcão e fico bebendo uma Original, atento se alguma das mesas está prestes a ser desocupada. Sem chance. Olho lá para fora e até o banco público em frente está ocupado, por duas moças que trabalham no salão ali do lado, pelo vendedor de frutas ambulante e por um sósia do bom jogador João, perdão, Juan (o que virou bicho só porque levara um drible) lendo jornal. Volto-me para a mesa da rapaziada e, de lá, ouve-se essa:

- Meu irmão foi morar em São Paulo. Antes ele ficava por aqui e a gente nem se encontrava quase. Agora, tem duas semanas e já rola até saudade do moleque. Coitado, logo São Paulo! Mas trabalho é trabalho...

Certa vez, ao ser perguntado sobre o lugar mais estranho onde fizera amor, o humorista Bussunda respondeu na lata: “São Paulo.” Nelson Rodrigues (quem tem lido a coluna pode perceber ultimamente seu lugar quase cativo por aqui) escrevia que “a pior solidão é a companhia de um paulista” (magnífico. O humor não pode ter limites – se não, não é humor). Mas, preferências à parte (e eu sou carioca, pô!), trata-se, claro, de brincadeiras com o preconceito (ou com a rivalidade entre Rio e São Paulo).

Começa a escurecer. Consigo, enfim, um espaço – mas no banquinho público em frente. De lá posso observar melhor o B.G. Decido não comer nada, vou só na cervejinha e logo dá vontade de você sabe o quê (o reservado, posso garantir, é surpreendentemente limpo, ganha até de outros mais famosos). Quando volto ao meu lugar no banco, vejo a cena de duas belíssimas negonas se beijando na rua justo em frente ao bar. O povo só falta aplaudir. A noite de sexta-feira pede passagem. Daqui a pouco o Baixo Gávea será outro. O B.G. Bar também. Saúde e até a próxima.


B.G. Bar – Praça Santos Dumont 126-B, Gávea (2512-0761)

3 comentários:

  1. Considerando o nº de bons (e ótimos) Bares de uma cidade como o Rio, não perderia meu tempo num lugar banal como o B.G., onde às vezes eu comia um pedaço de pizza nos meus tempos de Gávea...

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  2. Caro Marcelo,

    Não se esqueça de que o De Bar em Bar é uma crônica (e não uma crítica estrita de gastronomia). E assunto para a crônica tanto pode surgir do lugar bacana quanto do bar vagabundo da esquina.

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