DE BAR EM BAR - Choperia Vila Rica
De passagem para o centro, muitas vezes me chamou a atenção o enorme letreiro (que pode ser avistado da janela do carro ou do ônibus): “Choperia XYZ” e, principalmente, em letras menores, o desfecho da publicidade: “o melhor chope do bairro”. Pois bem. Fui lá conferir. Estou falando da Choperia Vila Rica, que fica na movimentadíssima esquina da rua da Glória com Cândido Mendes, portanto na subida para Santa Teresa.
A Choperia Vila Rica, além de bar, é também lanchonete, restaurante e pizzaria. Pelo menos é o que se promete. Na parte externa, há algumas mesinhas com cadeiras de plástico. No balcão pode-se comer um salgado ou doce. Na parte interna, tem-se o salão onde funciona o restaurante com certo clima de casa portuguesa (e, de fato, um senhor come um cozido e toma uma taça de vinho). Sento-me do lado de fora, para ver o vai e vem alucinado de transeuntes. Por enquanto, apenas uma outra mesa ocupada, ao meu lado esquerdo. São duas meninas com cortes de cabelo modernos, que tomam um mate e parecem entediadas na quinta-feira à tarde.
Peço um chope na meia pressão. O garçom grita lá para dentro: “Sai um na pressão!” E vem um chope absolutamente normal, com o colarinho ralo de sempre. Tomo mesmo assim. Para comer há porções de bolinhos de aipim com catupiry, pastéis, linguiça, picanha fatiada, carne de sol, mas prefiro não beliscar nada. Logo em seguida, chegam dois coroas e sentam-se ao meu lado. Sentam-se é modo de dizer. Eles simplesmente aterrissam no local, que não volta mais a ser o mesmo. Cada um senta numa mesa; os dois, como eu, de frente para o movimento da rua. Um, o vizinho mais próximo, pede um chope garotinho “sem colarinho” e o outro, na segunda mesa à minha direita, uma água de coco.
- Quando há uma queda de um lado, aumenta do outro, você sabe disso...
- Você não vale nada! (Pausa.) Viu o peitão?
- O teu gosto é completamente diferente do meu.
- Namorei mulher bonita, casei com mulher bonita e depois que enviuvei tudo continuou igual.
Este que falou agora é quem comanda o show. Ele, de camisa social e blazer azul, é, com todo o respeito, um velho feio, careca, e narigudo. Mas tira a maior onda. E é irritadiço. Não tive como não prestar atenção, uma vez que eles não demonstravam falsos pudores em comemorar a amizade xingando-se mutuamente em altos brados. O outro, todo de branco, faz “escada” para o velho sátiro arrematar a piada.
- Eu amo esse cara...! – diz o “escada” referindo-se com emoção ao amigo.
- Sai pra lá, bichona – corta o d. Juan. – Você tem é trauma de infância.
- Você hoje está inspirado!
- É que voltei às boas com o meu amor.
De certa forma, como acontece com a própria Choperia Vila Rica, até simpática, mas que apregoa mais do que apresenta (o nome “choperia” dá a ideia de uma especialização que não há), quem visse o tal senhor, no fundo um bom malandro, jamais associaria o seu discurso de sedutor irresistível à estampa – embora talvez ele consiga todas aquelas mulheres, nunca se sabe. Autoestima às vezes é tudo. Saúde e até a próxima.
Choperia Vila Rica – Rua Cândido Mendes, 16A, Glória (2221-2372)
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
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