DE BAR EM BAR - Otto
Sou daqueles que quando vai a uma churrascaria rodízio praticamente come mais palmito do que carne. Por isso, já fazia um tempo que estava para conhecer o bar e restaurante Otto. Lá é o verdadeiro paraíso do palmito. E justamente agora está rolando na casa o 5. Festival do Palmito Assado. Portanto, aqui estou na Tijuca. (Um amigo meu defende a tese de que todo carioca tem ou teve uma namorada tijucana. De fato, sou um carioca típico.)
Mas voltando ao palmito. Posso assegurar que o Otto não se esgota aí. Para começar, tem uma característica de que gosto muito: é um bar de esquina. E esquina poderosa: Conde de Bonfim com Uruguai. Pode-se sentar na varanda, pedir um chopinho e ver a vida passar em profusão. (A essa hora, meio da tarde, imperam os velhinhos. Mas há também crianças, passeadores de cachorro, marombeiros e meninas em flor.) A varanda é muito simpática. No trecho que dá para a rua Uruguai, que é onde fico, são duas fileiras de mesas de madeira com cadeiras com estofado preto. Há também uma parte interna, refrigerada e isolada com vidro fumê.
Perto de mim, há outras duas mesas ocupadas. Numa delas, um casal de seus 60 e poucos anos almoça costelinha com palmito e batata rostie. Para beber, chope. Na outra mesa, são duas meninas e um cara. Elas tomam mate e ele chope. Uma delas come um croquete do tipo alemão. As duas falam sem parar enquanto o rapaz apenas sorri, dá uns goles e, de vez em quando, atende o celular. Apesar do calor, bate um ventinho agradável.
- Quer passar um mês lá?... Quero! Passear, ir à praia, beleza. Mas prefiro essa área aqui. Queria sair do Grajaú e vir para essa região.
Se você acha que quem falou foi uma das meninas está muito enganado. Foi a senhora que está almoçando. Ela e seu companheiro são calmos e conversam articuladamente. Ela é morena, veste camiseta e saia jeans; ele, camisa pólo, calça de ginástica e sapato sem meia. Logo percebo que não formam um casal, mas que são muito amigos. Ao responder a algo que ele questiona, ela diz: “Cada um sabe daquilo que viveu.” Lembro-me de uma bela canção de Arnaldo Antunes, presente em seu novo disco, chamada Envelhecer: “A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer.” Sensacional.
Bem, vamos ao palmito. Apesar de constarem no cardápio petiscos como esbein, bolo de carne e salsicha alemã, e também pratos como picanha de cordeiro, bacalhau fresco e picanha Wessel, todos acompanhados de palmito, hoje só quero saber da estrela da casa. Peço um palmito assado na casca com molho de manteiga e alcaparras. Vem magnífico. Tão bom que peço outro, agora com molho de mel (“receita primitiva dos índios guaranis”), junto com um chope preto. Ó, Deus.
Para comprovar que não basta ficar velho, mas que é preciso “dizer venha pra o que vai acontecer”, assim que os dois coroas se retiram, sentam-se outros dois, irmão e irmã, que só reclamam da vida. A prova cabal de que é preciso uma forcinha para bem viver. E também para ainda aproveitar, amigo leitor, esse festival que vai até o final do mês. Saúde e até a próxima.
Otto – Rua Uruguai, 380, Tijuca (2268-1579)
domingo, 29 de novembro de 2009
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