DE BAR EM BAR - Joaquina
Numa tarde de sábado de muito calor, resolvo ir ao bar cujo símbolo é uma escrava que cozinha de forma soberba. De longe, ao adentrar o lado menos esfuziante da Cobal do Humaitá (ou de Botafogo, como queira), já chama atenção a fachada da bela casa. São dois andares com salões bem iluminados, paredes na cor tijolo e com quadros e ilustrações que remetem ao período colonial. Há também uma varanda estratégica no andar de cima. Mas, ainda assim, e mesmo com o apelo do ar-condicionado, prefiro ficar no pátio a céu aberto. Estou falando do Botequim Joaquina.
O movimento a essa hora é bem tranquilo. No salão alguns grupos ainda almoçam. Na parte externa, onde me encontro, há poucas mesas ocupadas. Uma mesa com dois amigos ali, outra com duas amigas mais adiante, uma outra com uma família. Chamo o garçom e fico na dúvida cruel entre chope (da Brahma) ou cerveja (a casa tem Bohemia, Original e Brahma Extra). Numa sinceridade à toda prova, o garçom me recomenda a Brahma Extra: “Está geladíssima! Ela fica quietinha na geladeira, porque ninguém pede.” Pronto. Eis aí uma oportunidade de corrigir uma injustiça.
Enquanto examino o cardápio, reparo numa mulher loura, que chegou há pouco e está sentada lendo um livro, absorta do mundo. Depois ela irá traçar um prato e continuará sem desgrudar do livro vermelho de capa dura. Confesso que adoraria saber que tal livro era aquele – o que, porém, nunca vou descobrir. Tão logo acabou a refeição, pediu a conta e retirou-se. Sou despertado por um casal que se aboleta numa mesa colada na minha. Olho ao redor e ainda há muito espaço vazio. Para completar, o homem começa a fumar como louco. Levanto subitamente, não sem antes dar uma reclamada. Mas o senhor, com um sorriso franco, me desarma: “Não me deixaram ficar lá dentro no ar-condicionado; só pode ser a partir daqui, me perdoe.” Tudo bem, aqui não é São Paulo. De qualquer forma, mudei de mesa.
Volto ao cardápio. As opções são interessantes. Quer ver? Há petiscos como palitos de provolone à milanesa, camarão oriental, pastéis feitos de massa de angu (com recheios que vão de couve com torresmo a palmito com cheddar e tomate seco), espetos na chapa e lula à doré. Entre os pratos, pode-se degustar receitas como risoto de camarão com rúcula, picanha com arroz egípcio e filé de truta com crosta de gouda. Peço um petisco que a princípio não me interessaria, mas a boa fama me fez experimentá-lo: o bolinho de arroz com molho de tomate picante.
A maior vantagem de ter mudado de lugar foi que pude acompanhar de perto a comemoração de uma mesa florida só de meninas. Eram umas 15, entre brancas, pretas, mulatas; bonitas, feias, mais ou menos. Aparentemente eram colegas de trabalho, mas também poderiam ser da faculdade. Estavam trocando presentes de natal. Tiraram fotos. Falavam todas ao mesmo tempo. Apesar disso, o bolinho de arroz não ficou nada ofuscado. Ainda pedi um escondidinho de bacalhau, razoável, mas nem de longe como o outro, inesquecível. Ho, ho, ho. Saúde e até a próxima.
Joaquina – Rua Voluntários da Pátria, 448, lojas 3 e 4, Cobal, Botafogo (2527-1722)
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
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