DE BAR EM BAR - Tropeço
Devo logo esclarecer que dessa vez foi praticamente uma maratona: seis horas de bar. A coluna, porém, quase não acontece. Combinei de ir ao botequim com um amigo que não mora no Rio. Era para termos nos encontrado na quarta-feira. Mas ele esqueceu, amigo leitor. Simplesmente esqueceu... Diante de tal tropeço, só me restou levá-lo, na sexta, ao novo bar do Leblon, cria do Degrau.
Fora o inacreditável esquecimento, Renato Salazar é um grande amigo. Tão amigo que somos compadres de mão dupla: eu sou padrinho de seu filho,Víni, e ele do meu Júlio. Estudamos juntos no Colégio Andrews. Somos de uma geração da tradicional escola de Botafogo que tem os músicos Roberto Frejat, Nilo Romero e Luce, o deputado Otávio Leite, o arquiteto João Uchoa, o ator Felipe Martins, o artista plástico Marcus André e outros menos conhecidos, mas não menos importantes na minha história pessoal.
Chegamos no Tropeço às seis da tarde. Conseguimos logo a melhor mesa, na beira da calçada. Uma frequentadora pagava sua conta e nos cedeu o lugar, não sem antes nos recomendar os pastéis da casa. Nem precisava tamanha delicadeza, pois os conheço bem – sou fã dos famosos pastéis do velho e bom Degrau. Mas, como já disse o compositor Aldir Blanc, o boteco “é o último reduto da gentileza.”
Pedimos o primeiro chope, enquanto meu amigo me fala de seu renovado amor à nossa cidade (submersa ou não). Surfista, biólogo e mestre em políticas públicas, Renato Salazar é daqueles cariocas com crachá e tudo, eternamente queimado de sol, mesmo tendo ido morar em Florianópolis, há 16 anos, em busca de uma vida mais pacata. Pergunto-lhe se ainda faz sentido a ideia de que Floripa seria um Rio de Janeiro da década de 1940. “Não, atualmente a distância diminuiu; seria como o Rio de 25 anos atrás.”
Lá pelo quinto chope, pedimos o Invocado (iscas de peixe com molho picante). Veio excelente a porção, saborosa e farta. Os outros petiscos do cardápio também levam títulos espirituosos, como Sirizinhos nada egoístas, Longe de casa, Vai dar samba e Camarões boêmios. Entre os pratos, pode-se degustar o risoto de tomate seco com camarões, nhoque de ricota, salmão ao molho de vinho, frango com catupiry e batata leonesa.
Lá pelo 10◦ chope, resolvo ir ao banheiro e é quando observo melhor a casa. São dois andares, com iluminação baixa, paredes amarelas com pôsteres de praia e fotos com situações como o “cofrinho” de fora, a saia presa na saída do banheiro e a alface no dente. Com tantas imagens sugestivas, pronto, eis que subindo os degraus para o reservado dou uma tropeçada, mas ainda bem que ninguém viu, ninguém soube.
Lá pelo 50◦ chope, chegam ao bar um amigo de Renato – Alfredo – e sua ex-namorada. Pedimos então os pastéis de camarão com shitake. Ótimos. A conversa toma outros rumos: falamos de astrologia e candidatos a presidente da República. Sinto que é a hora de tirar o time de campo. Quando já estou no táxi, Renato me liga para dizer que sua chave ficou na minha mochila. Ainda faltava o tropeço final. Saúde e até a próxima.
Tropeço – Avenida Ataulfo de Paiva, 517, lj A, Leblon (2239-3121)
sexta-feira, 16 de abril de 2010
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Grande Mauro,
ResponderExcluiruma honra enorme fazer parte da sua crônica.
Abs,
Alfredo
Mauro,
ResponderExcluirSou leitora da sua coluna há algum tempo... e só quando vc citou seus colegas do Andrews, caiu a ficha! Fomos da mesma turma 82 de 1976!! E no sábado 17/04 teve um encontro de alguns gatos pingados desta turma, na Trattoria do Pautasso!! Estávamos lá eu, Guilherme, Cadu Cabral, Dedé Bittencourt, Clarice Magalhães, Paulo Wicker, Cristina Gama Filho... e sua coluna daquela semana! ;o))
Bjs, Cláudia (Genari)
(lembra? baixinha, pequenininha, tíííímida!)
Bacana, Cláudia! Com as especificações lembrei, sim. Salve, salve a turma 82! Que bom que você curtiu e ainda mais que é leitora da coluna.
ResponderExcluirUm beijo do
Mauro