De Bar em Bar - Varnhagem
Outro dia uma leitora do JB me pediu que fosse mais à Tijuca e me enviou uma lista, muito boa por sinal, de botequins do bairro. Antes que ela pensasse que tenho algo contra a área, me apressei em esclarecer que já fiz a coluna em dois dos muito bons bares da região: Salete e Otto. E, acima de tudo, tenho pessoalmente uma relação de carinho com a Tijuca. (Conforme a teoria de um amigo meu, todo carioca que se preza tem ou teve uma namorada tijucana. Faço jus, portanto, ao meu crachá.)
Fui então dessa vez a um conhecido bar na Praça Varnhagem, o famoso bar da dona Natalina, com o mesmo nome do lugar público. O Varnhagem é daqueles botecos para a gente se sentir em casa. A matriarca da família Rosário, que bate ponto no local diariamente há mais de 50 anos, é quem supervisiona a cozinha e atende os fregueses com zelo e bom humor. Fico a imaginar se isso lhe fosse retirado – a vida perderia todo o sentido. Mas essa hipótese não existe, ainda bem.
Para abrir peço uma cerveja Original a fim de fazer par com o famoso bolinho de bacalhau da casa. Realmente, a fama não é em vão. Mesmo sendo um pouco cedo para a atividade boêmia, por volta de meio-dia, o petisco e a cerveja gelada caíram muito bem. Outros tira-gostos que também valem a pedida: croquete de carne e vaca atolada. À minha volta, alguns trabalhadores almoçam e veem televisão. Apesar de ser um pouco pequeno, o boteco de azulejos brancos e rosa e de alma lusitana tem espaço para todos.
Cheguei ao ponto onde queria. Aqui têm vez até os passarinhos, amigo leitor. Fico sabendo que nos fins de semana frequentadores trazem suas gaiolas, penduram-nas numa barra de ferro e tomam sua cervejinha tranquilamente. Não é à toa que o Varnhagem é conhecido também como o bar dos passarinhos. É ou não é sensacional um estacionamento de gaiolas? (Mesmo para quem, como eu, prefere passarinho solto.) Quem imagina que o Rio de hoje é só violência e terra de ninguém ainda não esteve por estas bandas. É uma cidade que não existe mais se recusando a ir embora de vez.
De tanto olhar as pessoas ao redor almoçando com gosto, a fome aperta. Resolvo embarcar nessa e peço o filé mignon suíno com salada de batata, arroz, feijão e farofa. Enquanto isso, observo um rapaz com ares de artista antenado, com seus piercings e boné modernos, a conversar com dois senhores de terno e gravata. Penso logo que é o tradicional caso em que o artista vai ao mecenas com o pires na mão e o coração na boca.
Porém me surpreendo inteiramente quando ouço o rapaz expor suas ideias sobre marketing e negócios com muita propriedade e total atenção dos engravatados. O que comprova o óbvio: imagem nem sempre corresponde ao que de fato é. Tal raciocínio serve perfeitamente ao Varnhagem, que a princípio até pode parecer um pé-sujo comum. Depois de degustar o prato delicioso, ainda me permiti uma coisa raríssima para mim em boteco: comer um doce. E o pudim de leite veio tão bom que me fez levitar feliz até o metrô no caminho de volta. Saúde e até a próxima.
Café e Bar Varnhagem – Praça Varnhagem, 14-A, Tijuca (2254-3062)
sexta-feira, 9 de julho de 2010
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