sexta-feira, 23 de julho de 2010

Criativo, delirante... e sóbrio

DE BAR EM BAR - CERVANTES

Já estava mais do que na hora. Fui nesta semana àquele boteco que é diretamente associado ao mais célebre bardo de Copacabana, figura mitológica da boemia carioca Rio 40 graus. O bar, claro, é o Cervantes. E o personagem, mais claro ainda, é o compositor e escritor Fausto Fawcett. Porém agora com um detalhe importantíssimo: Fausto parou de beber. Fui lá me encontrar com ele.

Quando chego, por volta de 16h, Fausto já estava lá, encostado no balcão, traçando um sanduíche com guaraná, e conversando com dois amigos sobre uma de suas maiores paixões: o Fluminense, que anda muito bem na foto, um dos líderes do Brasileirão, mas que pode perder seu técnico, Muricy Ramalho, para a seleção brasileira. Não se pode ter tudo. (Eu, como botafoguense que sou, sei bem disso... Reestreia, Maicosuel! Volta logo, Loco!)

Depois de meia hora, os amigos se vão e eu e Fausto vamos para o salão interno. Há nesse momento, apenas mais duas mesas ocupadas, uma com pai e filho almoçando tardiamente, outra com duas moças tirando fotos publicitárias de um sanduíche, realmente cinematográfico, da casa. Peço meu segundo chope e Fausto, outro guaraná.

Fausto Fawcett está mais magro e muito bem disposto. Entro logo de sola no assunto que não quer calar: como é nunca mais acordar de ressaca? Com o bom humor que o caracteriza, ele conta que na verdade não havia propriamente ressaca, pois, durante uns 25 anos, sua vida no Triângulo das Calcinhas, ou na “Bukowskaia”, foi um eterno estado de embriaguez, que, parece, passou voando. E acrescenta que parou porque teve que parar: o médico disse que era isso ou o transplante de fígado ou... Mas ainda bem que ele preferiu ficar mais um bom tempo por aqui, nos brindando com sua verve e seu texto inspirado. Porque muito mais do que o poeta das louras, Fausto Fawcett é um inventor de linguagem.

Enquanto passam garçons e o reverenciam, o papo corre solto. Falamos um pouco de tudo: Dunga, seleção espanhola, surfe de peito nas ondas de Copacabana na década de 1980, beber para suportar (“a vida é isso?”), indiferença, capatazes de humanista e música digital, entre outras coisas. Enfileiro um chope atrás do outro e pergunto se isso não o incomoda. Ele, com toda a calma, diz que está tranquilo. Peço o tradicional sanduíche de filé com queijo e abacaxi para acompanhar.

Como se sabe, o Cervantes é o paraíso dos sanduíches. Aqui tem de mortadela, salsichão, patê com abacaxi, linguiça calabresa, rosbife, fiambre de peru, filé de frango e muitos outros. Mas há também pratos como churrasco à campanha, brochete de camarão, frango ao alho e óleo, língua com salada de batata, miolos à milanesa e sopas de aspargos e de tomate.

O tempo passa voando e Fausto precisa ir embora. Poderíamos continuar conversando fácil. Antes de sair, conta que em setembro publicará seu quarto livro, Favelost, e em seguida o primeiro infanto-juvenil, Lourinha levada. Fico para tomar a saideira. E me sinto feliz pelo amigo, que está leve, inteligente e mordaz como sempre e pronto para escrever novos textos que o desafiem além e aquém do território babélico de Copa. Ele pode. Saúde e até a próxima.

Cervantes – Rua Barata Ribeiro, 7-B, Copacabana (2275-6147)

5 comentários:

  1. Querido compadre,
    Saudades... Fausto sóbrio... Faz parte... Só espero que as lourinhas levadas continuem nos agraciando com as suas peripécias... Aquele abraço, Renato.

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  2. Ps. Grande Cervantes... O SAMU da boemia carioca.

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  3. O Bar já teve dias melhores, ficou a fama...
    abs

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  4. Mas o sanduíche de filé com abacaxi com um chope na madruga ainda vale!
    abs

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  5. É, estando por ali vale sim, mas sem emoção...

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