quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Bigodes, chapéus e um Robin Hood pós-moderno

A SOMBRA DO FAQUIR - A QUEM INTERESSA?


Inauguro hoje nesse espaço uma crônica freestyle, A Sombra do Faquir. Como a De Bar em Bar da vez ficou adiada para a outra semana por conta da agenda do convidado (e da chuva), respirei fundo, deixei a preguiça sofrendo na janela e pronto. Escreverei sobre o que chamar a atenção, sem mote prévio, como é da natureza da crônica, esse gênero brasileiríssimo. Ela aparecerá ao lado dos pequenos textos, citações, poemas e da própria De Bar em Bar.

Abs & bjs
M

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BIGODES E CHAPÉUS

Sempre achei bigode um lance esquisito. Alguém botar um tufo de cabelo embaixo do nariz – e barbear o resto da cara. É o tipo de acessório que combina bem em poucos casos. Há bigodes clássicos que falam por si: Hitler, Sarney, Carlitos, Rivelino (na luta entre o bem e o mal deu empate). Kurt Vonnegut. A partir da minha recente obsessão por este escritor, de quem já li uns dez livros seguidos, enfileirados, começando justo pela obra-prima Matadouro 5, e tenho, graças a Deus, ainda mais uns oito na estante (quase tudo comprado em sebos), resolvi tentar mais uma vez um improvável bigodon. Isso mesmo, em homenagem a Kurt Vonnegut, o genial escritor bigode que até pouco tempo eu achava que era apenas um autor de ficção científica. Não é. É um escritor que me bateu fundo e dos grandes do século 20.

Bem, o bigode não deu lá muito certo. Meu cabelo já ficou grisalho e ralo no topo (é, amigo; velhice é ladeira abaixo). E o bigode é meio louro, meio branco. Tentei insistir, olhando-me no espelho o tempo todo para vigiar o crescimento dos pelos e tal e coisa. De início achei que estava legal, junto com uma barbicha de leve, que já tinha usado antes. Mas aí comecei a perceber na rua, na foto do jornal, no show moderninho no Oi Futuro, na propaganda de cerveja, que bigode, antes uma coisa meio cafona, agora é up-to-date. Sinal de modernidade. Comecei então a reparar no formato falho do meu bigode crescendo. E depois ainda que a minha mulher fez uma referência sem nenhum entusiasmo a respeito de minha dita homenagem (que ela não sabia ser uma homenagem), rapei fora. Que coisa mais ridícula, bigode.

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Ocorre comigo algo parecido em relação ao chapéu (cujo uso é também uma boa estratégia para deletar virtualmente a carequice, estratégia digna até, se comparada a perucas e implantes que parecem capim). Comprei um em Buenos Aires há quase um ano e nunca o usei apesar de ser muito bonito. Boné de vez em quando rola. Chapéu coco também já usei. Mas chapéu, chapéu, ainda mais depois que virou moda entre todas as bandas modernas e celebridades, fica difícil. E, assim como o bigode, também não cai bem em qualquer um. Sabem disso e usufruem da benesse meus amigos músicos Rodrigo Santos e Humberto Barros (este então tem toda uma persona cujo chapéu é parte indispensável. Fico até curioso para saber como ele é sem – sem nenhuma segunda intenção, por favor). Mas essa febre de chapéu já passou um pouco e ainda vou insistir. Dessa vez, em homenagem a ninguém. Ou melhor, em homenagem a Tom Jobim. Isso. Nada como uma motivação.

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UM ROBIN HOOD PÓS-MODERNO

Ouvido numa esquina do Bairro Peixoto, de um menino de seus 12 anos, num grupo de moleques de rua: “Só vamos roubar se for de quem tem dinheiro. Roubar de quem é pobre não tá com nada.” A vida anda tão dura que quase bati palmas.

9 comentários:

  1. Cadê a foto com o bigode? Adciona aí, Mauro.
    Muito bom o texto. Parabéns!

    Abraço,
    Marcelo Vidal

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  2. Valeu, Marcelo!
    Quanto à foto, vou poupar todo mundo...
    abs

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  3. Adorei! Tenho uma amigo que insiste em usar bigode e fica medonho, mandei o texto pra ele.
    Também quero ver a foto de bigode (rs).
    PS: li recentemente seu livro "Cão de cabelo" e gostei muito.
    Abraços,
    Tânia Tiburzio

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  4. Legal, Tânia! Que bom que você curtiu. Mas a foto, melhor não... abs

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  5. É verdade, bigode virou artigo hype. Deve vender em lojas de museus contemporâneos. Em saruas eletrônicos, na porta do Sérgio Porto, no Café do Oi Futuro, na festa Moo... Quanto mais Magnum, melhor. Boa sacada nos poupar da foto. Confesso que tentei a mesma coisa. Faz um tempo. Olhei no espelho e como não pretendia fazer do ato uma homenagem, não tutibiei em rapar a asa da graúna - já desbotada. Mas, como a moda só é válida quando contrariada, talvez eu tente novamente quando o assunto morrer. Abs.

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  6. É isso aí. Me esqueci de citar o Magnum! Abs

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  7. Querido compadre,
    Muito boa... Adorei e me identifiquei em várias das suas reflexões:-)Enfim, bigode não dá.
    Aquele abraço,
    Renato

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  8. mas Mauro, chapéu é legal. adoro! mas confesso que volta e meia fico temerosa em usar um dos meus pra não me igualar às modinhas que surgem em estilos bem duvidosos :-) boa a crônica. beijos

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  9. Pois é, Lene, a modinha estraga e distorce as boas ideias do estilo. Viva Tom Jobim! beijos.

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