terça-feira, 9 de agosto de 2011

É campeão!

DE BAR EM BAR (88) – Da Gema


         Esta crônica tem uma trilha sonora específica, o disco “Viva Muddy Waters”, do Blues Etílicos, apesar de aqui ser um lugar do samba: na porta do banheiro em vez de M e F há fotos de Donga e Chiquinha Gonzaga. (Mas, como se sabe, blues e samba são irmãos; e botequim bom não precisa ter fronteira etílico-gastronômica nem musical.) Porém o que importa é o seguinte: até que enfim pude vir ao Da Gema, o bar vencedor do último Comida di Buteco, evento que se tornou fundamental por revelar a nós, cariocas e agregados, ótimos bares que talvez deixássemos de ir sem a boa visibilidade que os concorrentes recebem. Parabéns Eulália, Ronaldo, Flávia e toda a turma por nos fazer sair de vez em quando do querido bar da esquina. Isso é cultura. Dito isto, vamos ao boteco que ele merece.

         Sem nenhum rodeio, é importante reconhecer logo: o Da Gema é um bar sensacional. Mas por quê? Por que dá para se sentir em casa logo na chegada, o bar é arejado, o clima é relax, a aura é boa. E fica numa esquina. Sento-me numa mesa de frente para a rua Barão de Mesquita e, olhando para dentro do bar, para um desenho do Cristo Redentor, com os braços abertos, fazendo sinal de positivo. Chega o garçom Pedro, um gigante com cara de vilão, que me conquista de cara nas primeiras intervenções. Peço uma Brahma Extra e observo ao redor. As paredes, menos a que tem uma reprodução dos ditos do Profeta Gentileza, são da cor do cabelo da namorada de Chico Buarque (embora este seja um assunto mais para os paparazzi e para os que querem ler as canções do recente disco do mestre ao pé da letra; pra mim basta saber que ela é bela e que pode vir a ser uma das nossas grandes cantoras, sobretudo pela simplicidade e sofisticação do repertório).  As paredes são cor de abóbora.

         Eis que chega o meu convidado. Ele é um cara que eu admiro há muito tempo. Lembro-me de ver um show impressionante de sua banda no final dos anos 80, no Sérgio Porto, e eu, na plateia lotada, boquiaberto, me sentir no Mississipi pela primeira vez, ao vivo, com músicos brasileiros. Este foi o primeiro de uma série de shows a que eu assisti do Blues Etílicos, sempre me encantando com o blues verdadeiro, na veia, sem frescura e muito bem tocado. Bedran é o baixista da banda e meu companheiro de copo nesta tarde-noite. Pedimos mais uma cerveja e uma porção de polentinha frita com rabada, por indicação do garçom Pedro. Aliás, ele aproveita e já dá também a dica de que quando quiser mais cerveja, não precisa nem chamar, é só tirar a garrafa da camisinha térmica. “Pra não interromper o papo de vocês.” Grande Pedro.

         A polenta com rabada veio maravilhosa, em cubinhos delicados e saborosos. Poderia ser um bate-entope danado, mas tinha leveza e só fez atiçar a vontade de provar outras delícias. Sempre com a discreta e certeira orientação do nosso garçom, enfileiramos o pastel de feijão, o bolinho de vagem e a lasanha de jiló. Qual o melhor? Impossível dizer. Outras opções do cardápio: nachos cariocas (com batatas portuguesas no lugar das tortilas), parmegiana de carne e frango, fondue Da Gema (linguicinha e costelinha com creme de milharina, milho branco, temperos e mozarela), bolinho de gorgonzola, moela, empadas e caldos de batata baroa com minas curado, de abóbora com camarão e o clássico mocotó. Entre as cervejas, a citada e nem sempre fácil de encontrar Brahma Extra, Therezópolis, Bohemia, Norteña, Patrícia, Quilmes, Stella Artois, Leffe e Franzizkaner. Quanto às cachacinhas, todas da melhor estirpe.

         Eu e Bedran, além do êxtase gastronômico, estamos felizes com uma parceria que fizemos. Este é sempre um dos momentos mais prazerosos da hoje difícil carreira de compositor (em tempos de pirataria e download gratuito desenfreados): quando a letra e a música, que existiam separadamente, viram uma terceira coisa. Em poucos minutos a música encaixou perfeitamente com a letra. O problema é que não registramos a composição... (ele jura que depois vai lembrar). A comemoração pede que tomemos uma cerva diferente. Escolhemos a Franziskaner, uma das cervejas de trigo mais conhecidas do mundo. E é o momento para o garçom Pedro mostrar o porquê de estar numa lista de votação dos melhores garçons do Rio. Dá um show à parte ao colocar a cerveja dourada e opaca no copo alto, variando a altura da queda do líquido no copo e atingindo um resultado espetacular. A cerveja desceu refrescante e o brinde foi de pura satisfação.

         Depois disso, o que faltou dizer, amigo leitor? Apenas duas coisas muito importantes. A primeira foi que ainda continuamos a saga dos tira-gostos pedindo o famoso “Doce subsolo do boteco”, que vem a ser o vencedor do Comida di Buteco, e para fechar um caldo de abóbora com camarão. Show. Mais uma vez fomos surpreendidos pelos sabores e no caso do petisco campeão (creme de feijão, creme de aipim com laranja, couve, carne seca desfiada, com casca de laranja e pétala de rosa por cima) tivemos a linda apresentação visual do acepipe num quadradinho de vidro. Para finalizar, não posso deixar de mencionar o casal de simpáticos gordinhos que estavam numa mesa perto da nossa. Eles estraçalhavam o que viam pela frente numa rapidez de concurso e com o sorriso estampado no rosto como se não houvesse amanhã nem colesterol. Felicidade é isso aí. Saúde e até a próxima.
        
Da Gema – Rua Barão de Mesquita, 615, C e D, Tijuca (2208-9414)

2 comentários:

  1. Querido Mauro,

    Pedro também tem o privilégio de nascer sob o signo da Estrela Solitária.

    Estamos juntos.

    Beijos

    Rodrigão

    ResponderExcluir
  2. Faz todo sentido! Estamos juntos, Rodrigão. bjs

    ResponderExcluir