sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sobre empadas e odontologia

DE BAR EM BAR – Salete


Dia desses, fui ao Salete com meu irmão Maurício (pensei em botar “M.”, mas o outro irmão também é “M.” de Marcelo). Ele, dentista e professor universitário, dá aula ali perto e está prestes a mudar o pouso acadêmico para outras paragens. Aproveitei, enquanto há tempo, a companhia de quem conhece bem o local. Para quem não sabe, o bar Salete é uma instituição na Tijuca, fundado pelo espanhol Manolo, em 1957.

Chego antes de meu irmão e posso observar com calma o ambiente. Bar das antigas, e também restaurante, com risoto de camarão, filé e tudo mais. Paredes com azulejos brancos e azuis, chão com tacos alvinegros, quadros naturalistas de paisagens remotas. Há, além de mim, mais algumas pessoas em três ou quatro mesas. Lá fora, as mesinhas redondas com banco alto estão todas ocupadas.

- O que o técnico disse? É pra você ir treinar ou não?...

O homem que conversa ao celular toma um chope e está diante de outro que bebe uma coca. Desliga o aparelho e fala com seu acompanhante.

- Nós jogávamos contra o Flamengo de Zico e Júnior, tomávamos de seis, sete, oito... E quando alguém se destacava, vinha o clube grande e se entendia com a gente, não tinha essa de empresário.

- Pra você, que jogou muito, mesmo não tendo conseguido um time de expressão...

- As contusões nos dois joelhos acabaram comigo.

- ... pra você deve ser mole lidar com esses garotos, falar a língua deles...

- Hum! O moleque hoje faz uma partida boa, no dia seguinte já quer um contrato com o Milan, o Real Madri.

Da cozinha sai uma fornada de empadas. Rapidamente surgem dois interessados e levam embalagens com os acepipes. O garçom pega algumas para servir as mesas da calçada. Nisso, desce as escadas do salão refrigerado, no andar de cima, uma mulher loura com ar de poderosa. Ela fala com um funcionário no balcão, senta-se na mesa perto da cozinha e come singelamente uma empadinha.

- Tá faltando coração. Ninguém quer mais jogar no mesmo clube duas, três temporadas. Só se for no Flamengo.

- Lá vem você com essa mania de achar que o Flamengo...

- É o maior do mundo mesmo, só que o mundo agora é outro.

Eis que chega o meu irmão. Ele também é flamenguista e devoto da religião segundo a qual todos são flamenguistas, mesmo que alguns não o reconheçam – obviamente que já brigamos muito por futebol. E a loura poderosa, que já estava sentada com outras pessoas na mesa ao lado da minha, se levanta e se dirige a ele:

- Como é que você entra aqui e não vem falar comigo?

Ela é a Sílvia, que toca o negócio depois da morte do pai, há quatro anos. Para isso, teve que largar a vida de dentista para dedicar-se ao Salete, mantendo-o como sempre foi. Aliás, com algumas pequenas modificações, como botar no cardápio as empadas de palmito e frango. O pai achava que devia restringir-se à perfeição da de camarão. Mas comprovei que aquelas também são excelentes. Pude experimentá-las enquanto ouvia algumas histórias engraçadas do Manolo. Graças a Deus, meu irmão e sua ex-aluna não falaram sobre odontologia. Saúde e até a próxima.


Salete – Rua Afonso Pena 189, Tijuca (2264-5163)

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