sexta-feira, 17 de abril de 2009

Chope novo no Luiz de sempre

DE BAR EM BAR - Bar Luiz


Uma leitora reclama que tenho me esquecido do lirismo e só fico ouvindo a conversa alheia. (Verdade, eu confesso. Aliás, nem tanto.) É a vida no bar que pulsa, e ao cronista cabe observar o que se passa ao redor. Diálogos e fragmentos entrecortados são a minha matéria-prima. Daí que tiro meus quase personagens, como Cambraia Neto, Sílvio Tornado, Clarice do Jóia e outros. Mas prometo na coluna de hoje não prestar atenção às mesas que gritam à minha vista como golfinhos de Miami – mas só dessa vez. Também, eu vim hoje acompanhado do Frejat. E, além do mais, estou num bar de alma exuberante. Estou falando do tradicional Bar Luiz, na rua da carioca, no centro do Rio de Janeiro, desde o ano de 1887.

Mas, antes de falar deste bar fundamental, abro um parêntese: Na ida ao centro, vale também uma visita à exposição dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS, no CCBB. É deslumbrante. Não é preciso entender – e nem mesmo frequentar – artes plásticas para curtir o trabalho. É grandioso e simples, inventivo, bom de se ver, pop na melhor acepção do termo. Ainda aproveitamos para ver um pouco da mostra do Filme Livre. Assistimos ao hilariante Como fazer um curta-metragem experimental, cult e pseudointelectual e ao belo filme da artista plástica Cláudia Hersz, Lifebuoy. Fechado o enorme parêntese cultural, vamos ao bar.

Entrar no Bar Luiz é voltar no tempo. Permanece tal como era em minha época de estudante de Direito, quando estagiava, ou enrolava, ali por perto – e já lá se vão duas décadas. Mas este bar, que é referência no estilo art-deco, não foi sempre o mesmo. O Bar Luiz já se localizou na rua da Assembléia, e já se chamou Adolfo (o nome mudou por ocasião do nazismo, e com a salvadora intervenção de Ary Barroso para conter uma turba furiosa de estudantes em protesto contra o “bar alemão”). Mas, na verdade, há uma alteração recente significativa. O chope deixou de ser da Brahma e passou a ser da Heineken e Sol (o claro) e Xingu (escuro). Sou fã do chope da Brahma, mas a troca não fez feio. Provei das três marcas e está tudo bem – como diz a música do meu parceiro Roberto Frejat, o funk Tudo de bom (com Maurício Barros e Bruno Levinson).

Frejat bebe água mineral. Como ele não encara carne vermelha, apenas eu comi do excelente salsichão com salada de batata, um clássico do Bar Luiz. Pedimos depois uma salada de bacalhau que veio divina. Leve e muito saborosa. Conversamos sobre insônia e, principalmente, sobre a importância específica da presença paterna na criação de filhos meninos, o dele, Rafael, o meu, Júlio (os dois, inclusive, já tocam guitarra juntos). Frejat pede uma torta de maçã de sobremesa. Ele precisa ir e eu fico mais um pouco.

Quero curtir um bocadinho ainda deste lugar. Tenho perto de casa uma filial do Bar Luiz, o quiosque na praia de Copacabana, que é legal, mas definitivamente nem larga com o clima da matriz no centro da cidade. É impossível sentar-se no Bar Luiz e não se sentir um carioca típico, com crachá e tudo. Peço então a saideira. Saúde e até a próxima.

Bar Luiz – Rua da Carioca, 39, Centro (2262-6900)

4 comentários:

  1. ai, mauro, que legal!

    ...hehehe...mas aproveitou pra me dar uma puxada de orelha como leitora reclamona!
    beijão, querido
    Claudia

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  2. Estudei, estagiei e trabalhei no Centro, mas não ganhava o que ganho hoje a achava o 'Luiz' caro naqueles tempos...faz séculos que não vou lá, e li num outro Blog que o chopp caiu de qualidade, apesar das suas afirmações em contrário...

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  3. Meu caro leitor Marcelo,

    Não disse exatamente isso, isto é, que o chope não caiu de qualidade. Aí vai textualmente: "Sou fã do chope da Brahma, mas a troca não fez feio". O "não fez feio" não é bem um elogio nem significa que a troca foi positiva. Isto é: apesar de preferir (naturalmente) o chope da Brahma, na minha opinião, dá pra beber. Abraço.

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