sexta-feira, 10 de abril de 2009

Fim de tarde no paraíso dos pastéis

DE BAR EM BAR - Bar do Adão


Fui dessa vez não à matriz, no Grajaú, porém à filial, em Botafogo, num casarão bonito e bem cuidado. Caía uma chuvinha fina no fim de tarde e o bar ainda estava meio vazio, esquentando para a noite. Uma ou outra mesa ocupada na parte externa, deu para escolher, tranquilamente, meu lugar no salão do pavimento térreo, perto da janela. Mas o “meio vazio” foi ledo engano. Em pouco tempo o bar lotaria. Estou falando do Bar do Adão, na rua Dona Mariana.

A primeira impressão logo é favorável. Na parte interna, há mesas e cadeiras de madeira. No térreo, em destaque, um enorme lustre art-déco. Nas paredes, onde muitas vezes está a identidade e, portanto, a alma de um bar, há pôsteres de LPs clássicos da MPB. Como “Sentinela”, de Milton Nascimento, Meus caros amigos, de Chico Buarque, Luar, de Gilberto Gil, Como dizia o poeta, de Vinícius, Toquinho e Marília Medalha, e muitos outros. Ah, tem também o Fagner de Eu canto...

Lembro-me das centenas de LPs que colecionava e me desfiz, sem espaço em casa e já sob o império do CD. Lembro-me também de uma crônica recente de Nelson Motta em que ele, como um Fukuyama pop, falou do “Fim da música”. É verdade que há uma saturação e que a maioria esmagadora do que se produz hoje, incessantemente, é lixo. Mas “Fim da música”? Continuamos a ter ótimos nomes “novos” para o mercado: Junio Barreto, Céu, Edu Krieger, Roberta Sá, Vanguart, Qinho & Os Cara, Rodrigo Maranhão, Rodrigo Bittencourt, Rodrigo Santos, são alguns deles. Mas o que interessa aqui, no Bar do Adão, é que os grandes mestres são cultuados e isto é bem agradável de se ver.

Como já disse, o bar encheu rápido. É que hoje, uma terça-feira, acontece a promoção de pastéis, o forte da casa. Qualquer um por R$ 2,30. Aliás, o Bar do Adão é o paraíso dos pastéis. (tem até o pastel “Pressão alta”, que leva aliche e alguns outros ingredientes explosivos). A casa enche de jovens e do pessoal que trabalha ali perto e vai depois do expediente. Mas um pouco antes disso, enquanto tomava o primeiro chope e pedia o primeiro pastel, de cogumelo (shitake, shimeji, e funghi secci), pude observar uma mesa de duas senhoras à minha frente. Eram duas velhas cultas, modernas, despachadas.

- A mulher não atura mais aquele homem desagradável. Isso já era. Mas ele é muito interessante.

- Eu agora peguei a mania de não depender de ninguém. Levo sempre meu jornal para a loja. Quando não é mais preciso, saio mais cedo e vou ao cinema. Aqui em Botafogo tem sempre filme bom passando.

Fico a me deliciar com a conversa das duas senhoras. Mas não dura muito. Logo elas têm que sair pois precisam pegar a oficina mecânica ainda aberta. É uma pena. São mulheres esclarecidas, abertas para o mundo, com a vantagem da experiência. Depois que elas saem, enfileiro os pastéis de palmito, o de queijo brie com damasco e o francês (camarão, alho poró e catupiry). São todos muito bons, sequinhos, com recheio generoso. E se me perguntassem: “Qual você preferiu?”. Diria sem pestanejar: “O de cogumelo.” Saúde e até a próxima.

Bar do Adão – Rua Dona Mariana, 81, Botafogo (2535-4572)

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