sexta-feira, 3 de abril de 2009

O recanto onde sempre é noite

DE BAR EM BAR - Gibeer


Por indicação de amigos, fui com S. ao Gibeer, na rua Lopes Quintas. O pequenino bar, de fato, é bem interessante. Abre só no fim da tarde e por isso lá é sempre noite. Em suas paredes, cartazes e bolachas de cervejas do mundo inteiro, e ainda pôsteres de histórias em quadrinhos como Asterix, Tintim e Mickey. Há, também, um reservado, uma saleta com um grande sofá de couro. O salão propriamente possui umas oito ou nove mesas e alguns banquinhos redondos em volta do balcão. A decoração é simples, despojada, elegante.

Mas acho que não dei muita sorte. Na véspera, houve uma festa na casa e, apesar da extensa carta de cervejas, o estoque disponível estava bem limitado – e um pouco salgado, digamos a verdade. Fui então de chope. Aliás, excelente, de fabricação artesanal. Bem, o bar estava, por volta de nove da noite, com apenas uma mesa ocupada, além da minha. Mas não pensem que o local estava silencioso. Pelo contrário. O som ambiente alto e o alarido da mesa ocupada por seis marmanjos impediam a paz.

- Tá de saco cheio da sua mulher? Pega a Ponte Aérea. Passa uma noite em São Paulo. Você não vai se arrepender. No dia seguinte, pega um avião de novo. E tudo certo.

A gargalhada que veio após o plano estratégico me lembrou do Bambam, grande Rodrigo Bandeira. Virei para olhar a peça e chego a levar um susto. De costas, era praticamente o meu amigo Bandeira. Gordo, baixinho, debochado. E, pelo visto, bem nascido. Essa pequena fuga para espantar o tédio conjugal, independentemente de ser machista ou não, não é para as massas, obviamente. Ao redor do gordinho sátiro, o único que estava de gravata, como a denunciar que veio direto do trabalho, espalhavam-se os amigos de camisa pólo e feições semelhantes. No que trabalharia o gordinho sátiro? Eu apostaria no mercado financeiro. De qualquer forma, ele era o comandante da mesa.

Já que nos era impossível conversar, a mim e a S., ainda que um desconfiado garçom tenha abaixado o som ambiente, peço ao mesmo e único garçom uma porção de croquete de carne para melhor acompanhar as aventuras do gordinho.

- Aquela fase foi braba. Separei pra dar um tempo à madame e aí fui morar logo com quem?... Eu chegava do trabalho e ele: “pra onde a gente vai?” A gente voltava de madrugada, bêbado, completamente louco, e eu tinha que acordar às sete. Ele, ao meio dia. Na noite seguinte era a mesma história: “pra onde a gente vai?” Meu irmão, eu até emagreci.

Todos caem na risada. O gordinho sátiro pede mais uma cerveja Norteña grande. Agora, só long neck, informa o garçom. O gordinho faz uma cara de meter medo. Eis que surgem no bar duas amigas dos rapazes, que até então estavam relaxados, na galhofa, e se transformam ao vê-las. Uma delas chega na animação total:

- E aí, vocês não vão assistir ao jogo do Flamengo? Não acredito!

Como se tivessem recebido uma ordem superior, em pouco tempo todos os seis marmanjos estavam do lado de fora já rumando para outro local. A mim e a S. só restou terminar os ótimos croquetes. Saúde e até a próxima.

Gibeer – Rua Lopes Quintas, 158, Jardim Botânico (2279-4161)

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