sexta-feira, 17 de julho de 2009

Carnavalizaram o botequim

DE BAR EM BAR - Garrafeiro Informal


- Você tá maluco, rapaz?!

Virei-me de leve para olhar.

- Onde já se viu uma coisa dessas! – continuou em sua estupefação o homem pálido com cara de fuinha, de camisa e calça sociais e cabelo impecavelmente repartido do lado.

Uma trama eclodiu mal cheguei ao Garrafeiro Informal (naquela rua em que muitas vezes cruzara de passagem, vindo do ônibus, para ir ao Piraquê jogar voleibol. Bons tempos). Por indicação de meu amigo Humberto Effe, que mora ali perto, fui conferir o relativamente novo bar da rede Informal, cuja filial do Jardim Botânico que lá existia entrou em obras e pouco depois virou Garrafeiro Informal. Como o nome modificado propõe, um bar dedicado às cervejas de garrafa – são mais de 20 rótulos.

Logo ao adentrar o boteco se percebe a intenção em dar um ar diferente em relação ao formato da bem sucedida rede de bares (que muito já frequentei, aliás). Há trechos de dizeres na estética do Profeta Gentileza, engradados de cerveja cenograficamente dispostos no salão, canecas no teto, um imenso São Jorge. Nas paredes azulejadas em branco e azul, pôsteres de algumas cervejas e prateleiras com inúmeras garrafas expostas. Se me pedissem uma interpretação pseudointelectualizada, arriscaria afirmar que rolou certa carnavalização do botequim, mas já que a decoração é assinada justamente por um carnavalesco, Mario Boriello, diria, como Benito di Paula, que “tudo está no seu lugar, graças a Deus”.

Peço uma cerveja Serra Malte ao garçom, mas logo aparece o gerente, que educadamente me explica que ainda não está bem gelada. Peço então uma Original e um balde com gelo com outras duas garrafas da minha escolha inicial. Eis que vejo passando na rua justamente o cantor e compositor Humberto Effe. Tinha ido dar uma corrida na Lagoa. Ele, que é da minha geração e também parceiro em duas ou três canções de que gosto muito, corre invejáveis nove quilômetros como se estivesse a passeio. Quando me vê, relaxando na varanda e tomando uma cervejinha, diz que está “com inveja”. Já eu penso com um travo de melancolia que a época em que cheguei a correr uma maratona está no museu das minhas memórias.

Humberto se despede e vai para casa. Ele será pai pela segunda vez e a sua mulher Tininha está grávida de primeira viagem. Sinto fome e peço um miniescondidinho de camarão, que vem excelente. É um dos pratos exclusivos do cardápio Garrafeiro (assim como o arroz com camarão, o espaguete com carne assada e o picadinho de carne). Estava tão bom que pedi em seguida uma porção de camarões empanados. Também muito boa.

O leitor a esta altura deve estar se perguntando: e a história do começo da coluna? Não esqueci, não. Guardei-a para o final. Aconteceu o seguinte: o homem pálido ficou indignado com o amigo porque este não via problema nenhum na própria mulher viajar de férias com o ex-marido e o filho adolescente dos dois. E ele, o amigo, enquanto isso, ficará no apartamento do tal ex-marido. Entendeu? São as múltiplas configurações da família nos dias de hoje. Saúde e até a próxima.

Garrafeiro Informal – Rua Saturnino de Brito, 64, Jardim Botânico (3874-0016)

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