sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um mexicano sem dramalhão

DE BAR EM BAR - Rota 66


Dessa vez fui na sequência a um segundo bar e é sobre ele a coluna de hoje. Depois de voltar do Aconchego Carioca, na Praça da Bandeira, que já estava quase fechando (mas ainda deu para aproveitar algumas de suas delícias, como a moquequinha de camarão com uma Original geladíssima) – isso no mesmo dia em que o bar coirmão Petit Paulette, na mesma rua, do artista-cozinheiro Paulo Barbosa, foi assaltado (força, Paulette).

Cometerei aqui uma brutal inconfidência, amigo leitor. O motivo da esticada foi que eu e S. precisávamos continuar a fazer o inventário de nossos humildes bens. Em resumo – para não entediá-lo –, continuamos nosso casamento, mas agora em casas separadas. Deu para entender? Portanto, embora não fosse o caso de nenhum dramalhão mexicano, fomos para o Rota 66, bar mexicano (ou tex-mex).

Atravessando o túnel e chegando na filial do Leblon, no início da Conde Bernardotte, no trecho onde há aquela grande concentração de bares, o ambiente estava tranquilo, medianamente ocupado. Uma mesa de família e outra de amigos vendo o futebol na TV no salão interno; na parte de fora, uma mesa grande de cinco ou seis mulheres e outra de uma dupla de amigas. Ou ex-amigas, pois elas discutiam asperamente e acabaram indo cada uma para um canto antes que chegasse o meu primeiro chope. (Raro ver bate-boca feminino no boteco... mas por que só nós teríamos o privilégio do mico?)

O bar é todo revestido de madeira. Nas pilastras e paredes, quadros de motos, de carros, de marcas de cerveja e, obviamente, de uma certa estrada. Digno de nota: um quadro enorme de um pára-choque de carro antigo na parede principal, à direita de quem entra no bar. No fundo, um bonito balcão. Mas nos sentamos na parte externa, de frente para a calçada. Para acompanhar o chope, pedimos um combo mex, que vem a ser tortillas com os molhos: sour cream, guacamole, pico de galo (tomate e pimenta jalapeño) e chilli beans.

Outras pedidas do cardápio: super nachos, flauta (rolinhos de tortilla recheados), linguiça flambada na tequila. E os pratos enchilada, quesadillas e burritos. Para beber, claro, tequila, michelada (servida na caneca com sal na borda, cerveja, gelo e limão) e mais chope da Brahma, cervejas Bohemia, Stella Artois, Dos Equis, Sol e drinques variados. O tal combo mex veio ok, todos os molhos despertaram vivo interesse – e corresponderam.

Enquanto eu e S. conversávamos sobre certas medidas chatas mas necessárias – de forma amena, felizmente –, observei a mesa das cinco mulheres. “Arruma um namorado pra mim... eu vou achar maneiro!”, dizia uma delas, a mais jovem. Era, aliás, a que mais falava. Aparentemente a que teria maiores expectativas de encontros e de belas histórias com que sonhar. As outras, de longe (e talvez só de longe), mostravam-se práticas e decididas: “Ela me falou: ‘Muito apessoado...’ Que diabo é isso?!” Ah, o amor. Hoje o amor verdadeiro é produto em baixa no mercado das almas. Por isso, estamos aqui agora, nessa Rota 66 que, afinal de contas, cumpre o que promete. Ah, o amor... Saúde e até a próxima.

Rota 66 – Rua Conde Bernardotte, 26, lojas B e C, Leblon (2512-5961)

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