DE BAR EM BAR - Estação Largo do Machado
Três amigos conversam no balcão. O papo ainda é aquele que tem movimentado a cidade nesses últimos dias:
– Ele vai casar com a loura. Só não sabe se é com a mulher ou com a cerveja.
– O cara não pode se entregar.
– Isso pra virar corno é rápido!
– Faz besteira e depois fica deprimido...
– Não é só bebida não.
– Eu ouvi dizer que é só manguaça.
– Eu acho que ele bota o nariz. Quando ele chega no morro é escoltado pelos vagabundos. Dois dias fora do ar.
– Dunga tá com muito medo.
– E o Ronaldinho Gaúcho?
– Pode jogar agora mais que Pelé. Dunga perdeu a confiança. Ele deu uma festa de três dias num hotel.
– Essa grana toda que rola é que prejudica esses caras. Olha só o professor universitário que estuda à beça e não ganha nada.
– Mas o futebol é uma espécie de arte.
– Tem jogador da seleção que na minha pelada não ia nem ser escolhido. Hoje tem só um ou outro craque, o resto é tudo igual. O próprio Adriano é bom jogador, mas não é craque.
– Ronaldinho Gaúcho é craque.
– O que ele faz é palhaçada com a bola. Craque era o Zico.
Fui ao Estação do Largo do Machado e o assunto em questão vai perdurar até a convocação, em maio, da seleção brasileira para a Copa. Quando cheguei, por volta das 19 horas, o bar estava cheio, havia apenas uma mesa livre, perto do balcão, esperando por mim.
Sento-me e peço o primeiro chope. O Estação fica numa das pontas do Largo do Machado. É um trecho em que se observam os carros e ônibus vindos da Lapa pela rua Bento Lisboa em direção ao bairro das Laranjeiras. Há muitas buzinas. Em frente, um resquício de calma no canto da praça, com aposentados jogando baralho. À minha direita, a igreja Nossa Senhora da Glória.
Nas outras mesas, casais, duplas de amigos e alguns solitários: além de mim, uma senhora falando no celular e uma mulher gorda jovem, de rosto bonito e fumando sem parar, repara em tudo à sua volta com olhos salientes. Peço uma porção de tremoços.
Além dos tremoços, que vieram sem muita emoção, há os seguintes aperitivos: salaminho, jiló, picanha suína fatiada, costelinha de porco com aipim frito, pastéis, bolinho de bacalhau. A casa oferece também pratos como: filé à piamontesa, medalhão de chester com arroz e purê e truta grelhada. Na parte interna, algumas pessoas jantam no salão refrigerado.
Peço ao eficiente e discreto garçom mais um chope e uma sugestão:
– Leão Veloso ou creme de palmito? (Para quem não sabe, sou fanático por palmito.)
– Leão Veloso é mais forte, senhor.
– Uma tigela de Leão Veloso então, por favor.
Volto-me novamente para o monotemático balcão e a língua maldita do boteco.
– Joga bola?
– Futebol hoje é esporte violento. Dou uma caminhada e quando estou me sentindo muito bem arrisco uma corridinha.
– Mas não com esse sol, né.
A tigelinha veio ok. Apesar da região movimentada e de passagem, o local do Estação Largo do Machado é um recuo no caos. E o bar é simples e honesto. Tem hora que não precisa mais do que isso. Saúde e até a próxima.
Estação Largo do Machado – Rua Bento Lisboa, 184, Largo do Machado (2508-7180)
sexta-feira, 19 de março de 2010
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