quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quem é você?

DE BAR EM BAR (85) – Delirium Café


Esta é a primeira incursão ao boteco depois do pequeno contratempo que tive com um tal osso chamado tíbia. Ficou estressado, coitado. Ainda não estou ok, mas volto a campo mesmo assim, indo e voltando de táxi, de porta a porta, pois praticar é fundamental sob pena de perder a forma etílica. Aproveito então a oportunidade para retornar, literalmente, com alguma dose de sofisticação. Por isso dessa vez fui ao Delirium Café, primeira filial brasileira do bar de Bruxelas que tem o maior cardápio de cervejas do mundo, famoso pelos 2004 rótulos atestados pelo Guiness. Aqui não são tantos, mas de qualquer forma a variedade impressiona. É um paraíso.

Cheguei à simpática e singela casa de dois andares na Barão da Torre por volta de 20h. Não sabia ao certo o número do bar porém à medida que se passa da esquina com a Farme de Amoedo a fachada surge inconfundível, em seu tom de azul claro e seus elefantinhos cor-de-rosa. Não tem erro. Lá dentro, a festa para os olhos é ainda maior: mal se entra na casa, a despeito da bela decoração com mais elefantinhos e com cartazes e adereços relacionados à bebida e do balcão inteirinho de madeira, é impossível não ser atraído logo para a prateleira que ocupa uma parede toda, com garrafas dos mais variados estilos, tamanhos e procedências. É, de fato, um paraíso.

Sento-me inicialmente numa das mesinhas altas e redondas que ficam em frente ao balcão, próximo da entrada. Nesse momento, há apenas uma mesa ocupada, no fundo do salão. Em algumas das mesas perto da imponente prateleira, funcionários retiram e limpam algumas garrafas de caixas que provavelmente tinham acabado de chegar. Peço um chope da marca da casa, a Delirium Tremens, mas me informam que o barril também tinha chegado havia pouco e não seria possível colocá-lo para uso naquela noite. Bem... sendo assim, opto pelo chope da Therezópolis Gold, que não decepciona. Muito pelo contrário. Tomo dois antes de passar para o salão propriamente, tão logo os rapazes terminem o trabalho que a rigor não deveria estar sendo feito com clientes na área. O paraíso também tem seus problemas.

Bem acomodado estrategicamente ao lado do centro da prateleira (para esta, sim, caberiam os gritinhos histéricos de um bando de homens num certo comercial da Heineken – embora até goste da marca), começo a estudar o cardápio. E a questão shakespeareana aqui não é o que pedir, mas o que dá para pedir. Gosto muito, por exemplo, da cerveja belga Duvel e adoraria pedir a garrafa grande, de 600 ml, mas custa a bagatela de 69 reais. Achou caro? Pois este é na verdade quase um preço médio das garrafas grandes importadas. Algumas custam bem mais do que isso. Quer também um exemplo? Fiquemos no bíblico trio, também belga, das cervejas Judas, Lúcifer e Deus. Não estou brincando, o papo é sério... Quanto vale Deus? Essa é sem dúvida uma boa questão. Vale muito, caro leitor, independentemente da sua religiosidade. Na casa dos três dígitos.

Então entre belgas, americanas, alemãs, tchecas, inglesas, espanholas, francesas e muito mais, escolho a própria Delirium Tremens Ale, de 300 ml. Não poderia sair daqui sem provar a marca da casa. Para acompanhar, peço o creme de cerveja com queijo e os croquetes de carne e gorgonzola. Outros petiscos do cardápio: mexilhões, pastéis de mexilhões e de camarão, salsichas, bolinho de aipim com carne seca, linguiça com provolone, filé aperitivo ao molho de cerveja brown, croquetes de queijo St. Paulin, sanduíches, presunto cru com mussarela de búfula e rúcula e os tradicionais mexilhões com fritas. Entre os pratos, bife à milanesa com salada de batata, baby beef ao molho de cerveja com fritas e filé a Trois Poivre com salada verde. Os petiscos vieram excelentes, e a cerveja Delirium, de teor alcoólico de 8,5 %, o mesmo de minha preferida Duvel, é também deliciosamente inebriante.

A esta altura, a mesa ocupada do fundo do bar, que tem três colegas de trabalho, relaxados, rindo, já se prepara para ir embora. Mas ainda ouço um deles, o gordinho da cara vermelha, que antes falava alto que “após a implantação do sistema o rodízio de tarefas se tornou perfeito...”, agora depois de várias saideiras dizia que “só errei com uma pessoa...”. E saem ruidosamente. Mas não fico sozinho por muito tempo. Logo aparece um jovem casal e diante do bar praticamente vazio eles sentam-se na mesa exatamente ao meu lado. Como admitiu depois o gordinho, nem tudo é perfeito.

Estudo novamente o cardápio para uma última pedida. Assim como experimentar a Delirium para mim era quase uma necessidade, sair de um bar belga sem provar os mexilhões com batatas fritas não existe. Peço portanto a combinação que é especialidade da casa e vem numa caçarola com maionese fresca. Para acompanhar, sigo a sugestão do ótimo garçom, que realmente entende do seu negócio, e tomo a brasileira artesanal Dado Bier Belgian Ale. Os mexilhões vieram macios, saborosos e inacreditavelmente robustos. As batatas cumpriram seu papel coadjuvante com a crocância adequada. E a cerveja pedida, também com alto teor alcoólico, se fez valer a pena, principalmente no quesito custo/benefício.

A vontade é de continuar, pedir outra dica ao preparado garçom, e na sequência acenar alegremente para o elefantinho, na parede, que está rindo para mim. Não precisaria nem disfarçar para o casal ao lado, pois eles estão aos beijos efusivos e nem sabem que o mundo não parou. Mas acontece que se o paraíso existe, ele também é caro. E para o meu bolso já deu. Pago a salgada conta e antes de sair vou ao banheiro. Na volta ouço na passagem o simpático elefantinho me perguntar: “Quem é você?” Mas isso eu já não tenho certeza. Saúde e até a próxima.

Delirium Café – Rua Barão da Torre, 183, Ipanema (2502-0029)

3 comentários:

  1. Tb gostei de lá colega. Mas é pequeno demais o Bar, embora os preços inviabilizem que o lugar encha muito - ou seja, salva-se...
    abs

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  2. Maldade, querido Compadre,
    A diretoria deveria estar junta... Ainda que fosse um único integrante :-]

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  3. Toda vez que vejo os elefantinhos sorrio...
    fantastica sua descrição, não poderia ser melhor!
    Inti.

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