terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma bela e triste tarde alvinegra (que jamais será esquecida)

A SOMBRA DO FAQUIR 8


Uma das maiores alegrias para quem adora futebol e tem filhos é passar a paixão pelo clube por que torce para a prole. Nesse ponto não tenho do que reclamar da vida. Meu filho Júlio é tão botafoguense quanto eu, se não for ainda mais fanático. Pois bem, no último domingo fomos juntos assistir ao jogo do nosso time numa condição especialíssima: na companhia ilustre do presidente do clube, Maurício Assumpção.

Esta é uma situação que a rigor não me entusiasmaria muito. Ficar de salamaleques com o poder, mesmo sendo o do clube da estrela solitária. Mordomias no camarote presidencial, tapinhas nas costas, sorrisos elogiosos e papo furado. Mas acontece que sou um admirador incondicional do trabalho da atual diretoria do Botafogo. Em pouco tempo ela deu jeito no clube e o colocou de volta ao caminho certo, de proeminência no futebol brasileiro.

Se no ano passado, como nos anteriores, brigamos para não ser rebaixados, neste, estamos (ainda) na luta pelas principais posições da tabela. O clube, que é o que mais cedeu jogadores à seleção brasileira em todos os tempos, voltou a dar destaque aos craques do passado (inaugurando, inclusive, estátuas em seu estádio de monstros sagrados como Garrincha, Nilton Santos e Jairzinho). O Botafogo voltou a ter ídolos, como Loco Abreu e Maicosuel. Ganhou o último campeonato carioca por antecipação ao vencer os dois turnos (depois de levar uma goleada humilhante do Vasco). Teve um comportamento humanista ao tratar de forma sensível o jogador Jóbson, um talento a ser lapidado, que fora suspenso pelo uso de drogas. E investiu com inteligência no marketing, atraindo torcedores das novas gerações. Isso tudo sem gastar fortunas.

O presidente Maurício Assumpção, que é dentista, por coincidência é professor de odontologia da mesma faculdade onde meu irmão, seu xará, também dá aulas. Num jantar recente, os dois se encontraram e meu irmão comentou que eu e meu filho éramos botafoguenses roxos. O presidente, nem titubeou: “Quero convidá-los então para assistirem comigo a um jogo em meu camarote.” Assim começou a saga. Recebemos o convite para ver o Botafogo contra o Internacional de Porto Alegre.

A princípio seria um jogo fácil. O Internacional, que não aspira mais a grandes coisas na competição e está voltado para a final do campeonato Mundial de Clubes, em dezembro, viria com um time misto e o seu goleiro seria nada menos do que o quarto reserva. E o Botafogo, por sua vez, jogando em casa, motivado pela disputa por uma vaga na Taça Libertadores (sonho de consumo de todos os times brasileiros), teria tudo para passar por cima. Já me via após a partida no vestiário conversando com os jogadores e comemorando com o presidente num restaurante qualquer.

Eu e Júlio chegamos cedo ao estádio. Meu filho tinha uma prova importantíssima de Química no dia seguinte, mas eu, pai compreensivo, liberei sua vinda desde que se matasse de estudar nos dias que antecederam ao jogo. Júlio, num gesto puramente teatral, chegou a levar uma mochila com cadernos e livros para o Estádio Olímpico do Engenhão. No camarote fomos os primeiros a entrar. A visão do campo era estupenda. A felicidade estava estampada em nossos rostos. Recebemos os cumprimentos e as boas-vindas do vice-presidente Antonio Carlos Mantuano e do diretor Maurão. Aos poucos foram chegando os outros convidados. No gramado, rolava um show de Michael Sullivan, o compositor alvinegro de mil e um sucessos. A torcida fazia um bonito espetáculo.

Eis que surge no camarote o ex-jogador da seleção portuguesa da Copa de 1966, o craque Eusébio, na época comparado a Pelé. Bem conservado, uma celebridade planetária. Pouco tempo depois surge o presidente. Simpático, fala de forma atenciosa com todos, mas sem se deter muito. As muitas atribuições e a tensão de um jogo capital para nossas pretensões fazem com que ele troque apenas poucas palavras com convidados distantes como eu. Tudo bem. Chegam também ao local três dirigentes de um clube uruguaio, se não me engano o Nacional de Montevidéu. Depois da experiência bem-sucedida com Loco Abreu deve vir outro atleta daquelas bandas para o alvinegro.

De repente, eu e Júlio olhamos para um dos camarotes ao lado e vemos uma parte considerável do time que seria titular do Botafogo: Maicosuel, Herrera, Fábio Ferreira, Somália (mais o reserva Danny Moraes, porém este não estava relacionado para o jogo por pertencer ao adversário). Ainda faltou o meio-campo Marcelo Mattos. Todos contundidos. Num campeonato longo como é o Brasileirão é comum os times terem desfalques por contusão. Mas no caso do Botafogo, não só perdemos nossa principal contratação (Maicosuel), como as lesões foram todas muito graves, impossibilitando os atletas de se recuperarem a tempo de voltar a atuar ainda este ano. E, como reza a lenda, há coisas que só acontecem ao Botafogo.

Bem, vamos ao campo. O time começou pressionando e deixou de marcar logo de cara alguns gols. O tempo foi passando, a pressão arrefeceu, era chutão pra lá e pra cá e nada. Final do primeiro tempo, zero a zero. Na etapa final, o time continuou a não jogar bem, a bola parecia queimar nos pés e o sonolento time do Inter abre o placar aos 20 minutos e amplia aos 29. O Botafogo desconta aos 30, mas um nervosismo avassalador toma conta do time, da torcida e do presidente, que torce com a fúria dos desesperados. Perdemos. O Botafogo estava invicto em seu estádio havia sete meses.

Clima de velório no camarote. A profunda decepção está estampada no rosto de meu filho e dos demais. Sinto vontade de chorar mas seguro a onda. O presidente, a um canto, olha para o nada e verte lágrimas de meu mundo caiu. Fico na dúvida entre falar com ele ou deixá-lo sofrer em paz. Acabo optando por sair educadamente e me despedir dele, agradecendo mais uma vez o convite. Ele mal consegue responder. Imagino que tenha pensado: “Que pé-frio! Esse eu não convido nunca mais...” No dia seguinte, Júlio se deu mal na prova de Química. Mas, apesar de tudo, foi uma bela tarde – triste e inesquecível. E o Botafogo ainda tem chances matemáticas de conquistar a sonhada vaga para a Libertadores, dependendo de uma louca combinação de resultados. Como com o Botafogo tudo é possível, vamos aguardar. Avante, Fogão. Sempre.

2 comentários:

  1. Avante Fogo!!! Também fiquei triste...
    Agora, mais ainda...

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  2. Parabéns pelo seu Fluminense, que está merecendo. Quem me dera ter um Conca... Além de ser o melhor jogador do campeonato, não se machuca!

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